Título:
Emboscada em Angola:
«Ataque fez oito baixas no pelotão»
Elementos cedidos por um
colaborador do portal UTW


Vítor Manuel
Valente de Oliveira
ex- Furriel Mil.º Sapador de
Infantaria
Companhia de
Artilharia 1469
Batalhão de Artilharia 1869
Angola 1965 a 1968
A emboscada
Ao entardecer da 3ªfeira 06Dez1966,
ao km.107 da EN3 entre o Píri e Quibaxe, um pelotão da CArt1469, quando
escoltava um MVL (coluna-auto civil de abastecimentos), foi alvo de
emboscada lançada por um bando terrorista do MPLA, que causou às NT as
seguintes baixas mortais:
- ÁLVARO SILVA FONSECA LOUREIRO*
Fur ml Enf n/m 15396865
- ANTÓNIO JORGE FIGUEIREDO DIAS Alf ml Inf n/m 15395165
- ANTÓNIO JOSÉ PEREIRA DE SÁ Sld Desemp n/m 00086865
- DOMINGOS DE OLIVEIRA LOPES FERNANDES Sld At n/m 03039565
- FERNANDO ALBERTINO DA SILVA PINTO Sld AP n/m 06029565
- SEBASTIÃO DA CONCEIÇÃO MORGADO Sld At n/m 02637265
- SILVÉRIO FRANCISCO DOS ANJOS Sld At n/m 00676965
- VIRGÍLIO GOMES 1Cb At n/m 07899665
*
- (evacuado, veio a falecer no aquartelamento de Bessa Monteiro)
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Título da publicação na revista
"Domingo" do jornal "Correio da Manhã", de 03Jan2010:
Emboscada em
Angola: «Ataque fez oito baixas no pelotão»
publicação
em formato "pdf"
O pior. No combate dois dos camaradas
nem conseguiram sair da viatura (Nota).
Os restantes responderam ao inimigo e causaram-lhes várias baixas.
No período em que estivemos em Úcua,
na zona de Dembos, fez-se uma grande operação, denominada ‘Quissonde’,
comandada pelo coronel Alves Pereira, conhecido pelo ‘Totobola’. Demorou
bastantes meses. O objectivo era abrir uma picada até ao rio Dange, que
separava Úcua de Nambuagongo e Quicabo, uma zona muito difícil. A
picada, feita pela nossa Engenharia, ia passar por um quartel dos
turras, que constantemente flagelavam os nossos camaradas. Uma companhia
sofreu um ferido grave, que ficou numa cadeira de rodas. Nos Fuzileiros
também se registaram baixas.
O primeiro ataque ao nosso
aquartelamento aconteceu três semanas após termos chegado a Úcua. O
nosso grupo de combate foi destacado para uma patrulha de três dias, com
destino até junto do rio Zenza, na zona oposta ao rio Dange. Ao fim de
dois dias, fizemos o regresso e ficámos a poucos quilómetros de Úcua
para dormir, no meio de uma plantação de sisal, cujo dono era o Sr.
Acácio. Pelas 03h00 ouviu-se um tiro de pistola e, logo de seguida,
desencadeou-se um forte tiroteio. Nós, da zona plana onde nos
encontrávamos, assistimos ao tiroteio: víamos as chamas a sair dos canos
das armas e até por cima de nós passavam pequenas rajadas de pistola
metralhadora. Eles tinham-nos visto chegar e o ataque durou até às
05h30.
De manhã cedo, já tudo estava sereno
e chegámos ao aquartelamento, que se encontrava em grande alvoroço. Aqui
deram-nos a triste notícia de que tinha havido uma baixa: a primeira em
combate e só tinham passado três semanas. Um dos dias mais tristes para
todos nós foi quando recebi um telefonema do alferes comandante do nosso
grupo de combate, a dizer: "Oliveira, prepare rapidamente o grupo de
combate - nós que tínhamos regressado de uma MUL (conjunto de viaturas
civis de transporte de mantimentos) nem há uma hora e tínhamos acabado
de tomar banho -, porque a coluna diária da Companhia de Artilharia (Cart)
1469, sediada em Piri, está a ser atacada". Eram 17h00 e o dia escurecia
uma hora depois.
O nosso comandante, tenente-coronel
José Pires acompanhou-nos numa viatura Unimog - a que eu comandava e que
transportava a metralhadora pesada Breda. Era um grande comandante, um
grande homem, apesar de só ter 1,62 metros de altura. Quando passámos na
zona onde se deu a emboscada, só vimos uma Unimog 204 a arder. Era a
viatura que transportava o rádio e tinha sido atingida com uma bazucada.
O socorro só foi pedido devido uma viatura Scania que conseguiu passar o
forte tiroteio e, já com a parte traseira em cima das jantes, alertar
para o que estava a acontecer em Piri.
Quando chegámos, pelas 19h00, e
falámos com os camaradas, no comando, encontrei-me com o furriel
encarnação e perguntei-lhe quantas baixas havia e ele respondeu-me:
"Oito baixas confirmadas e sete feridos, alguns com gravidade, a
precisarem de ir para Luanda". Entre as vítimas que foram para o
hospital nenhuma morreu. Perguntei-lhe também quem era o alferes que
comandava a coluna, ele disse-me o nome e respondeu: "Viste a Unimog a
arder?". Disse que sim. "Ele e mais o condutor estão lá dentro". Só no
dia seguinte é que foram retirados.
Ainda em relação a esta emboscada,
recordo duas situações que demonstram o grande espírito de entreajuda e
valentia dos nossos militares. Quando o grupo de combate saiu em socorro
dos camaradas que estavam a ser atacados, antes do local da emboscada,
numa curva em cotovelo, encontrava-se uma força inimiga que, para evitar
que a nossa chegada fosse rápida, se empenhou num forte tiroteio. Só a
pronta acção de coragem demonstrada pela coluna o evitou. Além de
outros, destaco a do furriel Pinto de Lima, que, debaixo de fogo,
levantou-se e com a arma ao quadril foi disparando contra o inimigo.
Assim, arrastou outros que conseguiram desbaratar a resistência.
No segundo caso, já no local da
emboscada, um soldado com dois tiros numa perna conseguiu arrastar-se
para debaixo de uma viatura Mercedes (foram emboscados dois carros com
um total de 17 soldados). Quando já esperava o pior, ouviram-se vozes do
lado inimigo, que pensava não haver sobreviventes. "Vai lá abaixo buscar
as armas", disse uma, ao que outra respondeu: "Vai lá tu". Passado um
bocado, desceram às estrada dois inimigos, um armado com uma espingarda
Simonov e o outro desarmado. Na altura certa, o nosso camarada deu um
tiro no peito do primeiro e atingiu o outro, quando se virou, matando-o
também.
CUIDAR DOS EX-COMBATENTES
Vítor Manuel Valente de Oliveira nasceu a 9 de Setembro de 1943 e é
natural de Póvoa de Santa Iria. Depois da comissão de 26 meses em
Angola, regressou à Metrópole - como furriel miliciano sapador de
Infantaria - e casou em 1970. É técnico de desenho industrial, reformado
desde 2001, tendo trabalhado na Mague.
Tem dois filhos, de 36 e 38 anos e
três netos, dois gémeos de oito anos e um de cinco. Com o seu testemunho
quer chamar "a atenção dos responsáveis para cuidarem" dos
ex-combatentes que "hoje estão gravemente doentes física e
psicologicamente".
PERFIL
Nome: Vítor Oliveira
Comissão: Angola (1965/1968)
Força: Batalhão de Artilharia 1869
Actualidade: Hoje, aos 66 anos, em Póvoa de Santa Iria
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(Nota)
- Informação do veterano Hamilton José
Teixeira Cardoso:
Não foram dois
camaradas, Alferes António Dias e soldado António Sá, que não
conseguiram sair do Unimog, também na Mercedes o Furriel Álvaro Loureiro
não saiu do lugar onde seguia, ao lado do condutor, atingido com um tiro
ou mais.
No mínimo e em sinal
de homenagem e respeito, aqui deixo os nomes dos oito camaradas da CArt
1469 atingidos mortalmente nesse ataque.
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Quibaxe
Dos 8
militares mortos em combate, os restos
mortais de 3 ainda permanecem naqueles
covais
Imagens cedidas por um Veterano
Descansem em Paz.

Álvaro Silva Fonseca Loureiro (*)
Álvaro
Silva Fonseca Loureiro, Furriel
Mil.º Enfermeiro, n.º 15396865,
natural do lugar da Igreja, na
freguesia de Santa Marinha do
Zêzere, concelho de Baião, filho de
José Maria Loureiro e de Maria
Cândida da Augusta Fonseca da Silva,
solteiro.
Mobilizado pelo Regimento de
Artilharia Pesada 2 (RAP2 – Vila
Nova de Gaia) para servir Portugal
na Província Ultramarina de Angola,
integrado na Companhia de Artilharia
1469 (CArt1469) do Batalhão de
Artilharia 1869 (BArt1869).
Está inumado no cemitério de Santa
Marinha do Zézere, concelho de
Baião.´
(*) - (evacuado, veio a falecer no
aquartelamento de Bessa Monteiro)
António Jorge Figueiredo Dias
António
Jorge Figueiredo Dias, Alferes Mil.º
de Infantaria, n.º 15395165, natural
da freguesia de São Nicolau,
concelho do Porto, filho de Arlindo
Monteiro Dias e de Maria da
Conceição Figueiredo Dias, solteiro.
Mobilizado pelo Regimento de
Artilharia Pesada 2 (RAP2 – Vila
Nova de Gaia) para servir Portugal
na Província Ultramarina de Angola,
integrado na Companhia de Artilharia
1469 (CArt1469) do Batalhão de
Artilharia 1869 (BArt1869).
Está inumado no cemitério de
Agramonte, no Porto.
António José Pereira
de Sá
António
José Pereira de Sá, Soldado
Desempanador, n.º 00086865, natural
do lugar de Devesas, na freguesia de
Santa Marinha, concelho de Vila Nova
de Gaia, filho de António Ferreira
de Sá e de Lucinda de Jesus Pereira,
solteiro.
Mobilizado pelo
Regimento de Artilharia Pesada 2
(RAP2 – Vila Nova de Gaia) para
servir Portugal na Província
Ultramarina de Angola, integrado na
Companhia de Artilharia 1469
(CArt1469) do Batalhão de Artilharia
1869 (BArt1869).
Está inumado no cemitério de Santa
Marinha, concelho de Vila Nova de
Gaia.
Domingos de Oliveira Lopes Fernandes
Domingos
de Oliveira Lopes Fernandes, Soldado
Atirador de Artilharia
n.º 03039565, natural do lugar da
Liga de Cima, na freguesia de
Mascotelos, concelho de Guimarães,
filho de Francisco Lopes Fernandes e
de Antónia Dias de Oliveira,
solteiro.
Mobilizado pelo Regimento de
Artilharia Pesada 2 (RAP2 – Vila
Nova de Gaia) para servir Portugal
na Província Ultramarina de Angola,
integrado na Companhia de Artilharia
1469 (CArt1469) do Batalhão de
Artilharia 1869 (BArt1869).
Está inumado na campa n.º 5, fileira
n.º 7, do Talhão Militar, no
cemitério de Quibaxe (Angola).
Fernando Albertino da Silva Pinto
Fernando
Albertino da Silva Pinto, Soldado de
Armas Pesadas, n.º 06029565, natural
da freguesia de Miragaia, concelho
do Porto, filho de António Pinto
Júnior e de Conceição Silva, casado
com Laurentina da Conceição Rufino
Pinto.
Mobilizado pelo Regimento de
Artilharia Pesada 2 (RAP2 – Vila
Nova de Gaia) para servir Portugal
na Província Ultramarina de Angola,
integrado na Companhia de Artilharia
1469 (CArt1469) do Batalhão de
Artilharia 1869 (BArt1869).
Está inumado na campa n.º 1, fileira
n.º 77, do Talhão Militar, no
cemitério de Quibaxe (Angola).
Sebastião da Conceição Morgado
Sebastião
da Conceição Morgado, Soldado
Atirador de Artilharia, n.º
02637265, natural do lugar de Vale
de Agodim, da freguesia de Vila
Verde, concelho de Alijó, filho de
António Brites Morgado e de Alcina
da Conceição, Solteiro.
Mobilizado pelo Regimento de
Artilharia Pesada 2 (RAP2 – Vila
Nova de Gaia) para servir Portugal
na Província Ultramarina de Angola,
integrado na Companhia de Artilharia
1469 (CArt1469) do Batalhão de
Artilharia 1869 (BArt1869).
Está inumado no cemitério de Parada
do Pinhão, concelho de Sabrosa.
Silvério Francisco dos Anjos
Silvério
Francisco dos Anjos, Soldado
Atirador de Artilharia, n.º
00676965, natural da freguesia de
Torredeita, concelho de Viseu, filho
de Maria dos Anjos, solteiro.
Mobilizado pelo Regimento de
Artilharia Pesada 2 (RAP2 – Vila
Nova de Gaia) para servir Portugal
na Província Ultramarina de Angola,
integrado na Companhia de Artilharia
1469 (CArt1469) do Batalhão de
Artilharia 1869 (BArt1869).
Está inumado na campa n.º 6, fileira
G, do Talhão Militar, no cemitério
de Quibaxe (Angola)
Virgílio Gomes
Virgílio
Gomes, 1.º Cabo Atirador de
Artilharia, n.º 07899665, natural do
lugar de Gandara, na freguesia do
Covão do Lobo, concelho de Vagos,
filho de Manuel Gomes e de Ana dos
Anjos, solteiro.
Mobilizado pelo Regimento de
Artilharia Pesada 2 (RAP2 – Vila
Nova de Gaia) para servir Portugal
na Província Ultramarina de Angola,
integrado na Companhia de Artilharia
1469 (CArt1469) do Batalhão de
Artilharia 1869 (BArt1869).
Está inumado no cemitério da
freguesia de Fonte de Angeão,
concelho de Vagos.

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