20Abr1970: Barbamente assassinados 3 Majores, 1 Alferes e 3 Guias, do Exército Português
[...] Os sete corpos estavam espalhados. Dava a ideia de que tentaram fugir. Partiram desarmados para o encontro. Não tinham maneira de se defenderem. Foram apanhados à traição. Todos eles eram homens valentes. [...]
Testemnho de Francisco Rodrigues, Furriel Mil.º
Com a apoio de um colaborador do portal UTW
«Os nossos filhos nunca se hão-de envergonhar dos nomes que usam.»
(Mário José Pereira da Silva, brigadeiro, ministro do Exército 13Abr1961-04Dez1962)
20 de Abril de 1970 - no noroeste da Guiné, aconteceu o "Massacre do Chão Manjaco".
Foram barbaramente
abatidos, por três
pseudo-guerrilheiros do
PAIGC:
3 Majores, 1 Alferes e 3 Guias, que haviam sido incumbidos, pelo comandante-chefe, de negociar um plano de cessar-fogo na região norte da Guiné
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"Bolanha de Cachabate", por J. C. Abreu dos Santos
«... Ao alvorecer de 21 de Abril de 1970, os corpos daqueles 4 militares portugueses e dos 3 guias, são encontrados, retalhados e com um tiro na nuca. ...»
Fonte:
Revista "Domingo" do jornal "Correio da Manhã"
30 de Março de 2008
Francisco Rodrigues, Furriel Mil.º
"Vi os corpos mutilados
dos três majores"
Só fui chamado para a
tropa aos 21 anos, por
causa dos adiamentos.
Fiz a recruta em Tavira
e, depois, a
especialidade de
atirador no Regimento de
Infantaria de Beja.
Estava no Regimento de
Infantaria 3, em Beja,
quando fui mobilizado
para a Guiné. Tinha sido
promovido a furriel.
Soube que ia em rendição
individual – para o
lugar de um camarada
morto em combate.
Embarquei no navio Uíge,
em 22 de Outubro de
1969, com destino a
Bissau. Seis dias depois
apresentei-me na
Companhia de Caçadores
2596, aquartelada no
Pelundo, na região
central da colónia.
Passei por um momento
muito difícil e que
ficou para a história da
Guerra do Ultramar. Foi
o episódio bárbaro e
sangrento da morte dos
três majores portugueses
e de um alferes que os
acompanhava. Foram
mortos à traição,
desarmados, e cortados à
catanada por um grupo de
guerrilheiros, na zona
de Jolmete,
relativamente perto do
aquartelamento da minha
companhia, no Pelundo.
Os três majores (Pereira
da Silva, Passos Ramos e
Magalhães Osório)
tiveram vários encontros
com chefes da guerrilha
a fim de os convencer a
abandonarem a luta. Isto
fazia parte de um plano
secreto do general
Spínola, então
comandante-chefe.
Soube-se depois que o
trabalho dos majores
estava a dar resultados.
A guerra na Guiné ou
acabava ou endurecia.
Na manhã de 20 de Abril
de 1970, reparei que
dois jipes saíram do
quartel para os lados de
Jolmete. Eu nem sonhava
o que estava a
acontecer. Naquelas
viaturas, vim a saber,
seguiam os três majores,
o alferes Mosca e três
guias guineenses. Iam
para mais um encontro.
Ao fim da tarde, o
capitão da companhia
quis saber quais eram os
pelotões que estavam
livres. Estavam dois
livres – o primeiro,
comandado pelo alferes
Francisco, e o quarto,
que estava à minha
responsabilidade e de um
outro furriel, o Carlos
Silva. O capitão estava
com cara de caso.
Informou-nos que os três
majores tinham ido de
manhã para Jolmete e
deviam ter regressado ao
Pelundo pela hora do
almoço – mas, ao fim do
dia, ainda não tinham
dado sinais de vida: ou
estavam mortos, ou
sequestrados. Recebemos
ordens para sair
imediatamente à procura
deles. Já era de noite.
Chamámos o pessoal dos
dois pelotões e saímos,
bem armados e prontos
para a porrada, por
volta da meia-noite.
Éramos uns 50 homens.
Levámos dois guias, o
Dibo e o Massabá,
guineenses da nossa
confiança. À frente,
seguia o primeiro
pelotão, do alferes
Francisco. Depois, iam
duas viaturas ‘unimogues’.
A fechar a coluna, ia o
meu pelotão.
Após umas quatro horas
de caminho, já tínhamos
percorrido uma dezena de
quilómetros, parámos a
um sinal dos guias. Eles
tinham conseguido ver na
escuridão, lá mais à
frente, a traseira de um
dos jipes que
procurávamos. Como era
de noite não nos
aproximámos do jipe –
porque podia estar
armadilhado. Só
avançámos quando o dia
clareou. Aquilo podia
ser uma emboscada.
Aproximámo-nos com todo
o cuidado. Vimos então
uma cena macabra – uma
tragédia que por mais
que me esforce não
consigo limpar da
cabeça.
Os majores, o alferes e
os três guias que os
acompanhavam tinham sido
barbaramente
assassinados. Os corpos
estavam horrivelmente
mutilados. Apresentavam
golpes de catana no
pescoço, nos braços e
nas pernas – e foram
abertos ao meio à
catanada. Devem ter
sofrido muito. Os
cadáveres dos três guias
ainda estavam em pior
estado: foram cortados
aos bocados.
Os sete corpos estavam espalhados. Dava a ideia de que tentaram fugir. Partiram desarmados para o encontro. Não tinham maneira de se defenderem. Foram apanhados à traição. Todos eles eram homens valentes.
Recolhemos os corpos,
com a ajuda dos nossos
guias, e colocámo-los
tapados nos ‘unimogues’.
Entrámos em contacto com
o nosso comandante para
lhe dizer o que se
passava. Daí a pouco,
recebemos ordens para
permanecermos no local -
porque o nosso general
Spínola ia a caminho, de
helicóptero, e era
preciso assegurar a
protecção da zona. Nós
não sabíamos se
estávamos a ser cercados
por uma força de
guerrilheiros do PAIGC.
Assegurámos um perímetro
de segurança. O meu
pelotão ficou a proteger
uma zona mais afastada.
Vi o helicóptero ao
longe: aterrou – e
descolou momentos depois
numa nuvem de pó.
Spnínola foi lá. Se os
guerrilheiros andavam
por perto, e era natural
que andassem, não se
manifestaram e nem nós
os vimos. Nem disparámos
um tiro.
Chegámos com os corpos
ao quartel de Pelundo em
cima da hora do almoço.
Acho que nem almocei.
Ainda hoje, retenho na
memória as imagens
horríveis daqueles
corpos esquartejados.
[...]