Ex-combatentes no Ultramar nos anos 60 e 70 recebem
medalhas
Dezassete
ex-militares que residem na região e que combateram no
Ultramar nos anos 60 e 70 do século passado receberam
condecorações no dia 25 de março na Escola de Sargentos
do Exército (ESE), nas Caldas da Rainha, mais de 40 anos
depois de terminadas as suas missões.
Cerimónia
de imposição de condecorações
A cerimónia
foi presidida pelo comandante da ESE, coronel Monteiro
Sardinha, que começou por receber os ex-combatentes e
respetivos familiares, seguindo-se uma visita às
instalações e missa na capela da ESE.
Chegou então a
altura da formatura na parada, para a imposição de
condecorações, tendo o comandante, na sua alocução,
salientado “o justo reconhecimento do Exército àqueles
que, saindo dos seus lares, foram combater ao serviço da
Pátria que os viu nascer e que, de uma forma exemplar,
cumpriram a missão que lhes foi atribuída”, referindo
ainda “o exemplo que constitui para as gerações mais
novas”.
Seguiu-se um
almoço convívio no refeitório militar.
Os
condecorados
Foram
condecorados com a “Medalha Comemorativa das Campanhas”
os seguintes ex-militares:
2.º Sargento
Miliciano José Lourenço Saraiva Salvado - Guiné 1967/69
2.º Sargento
Miliciano António Miguel Simões Lopes Curto - Angola
1972/74
Furriel
Miliciano António José Camarinha Mora – Moçambique
1969/71
Furriel
Miliciano Rui Pereira dos Santos – Moçambique 1968/70
Furriel
Miliciano António Francisco dos Santos Janeiro – Angola
1973/75
1.º Cabo Mário
de Jesus Santos Santiago – Angola 1963-66
1.º Cabo
Henrique Pereira da Silva – Angola 1965/68
1.º Cabo
António Luís Bernardino – Moçambique 1968/70
1.º Cabo
Fernando Alberto Pereira de Carvalho – Angola 1971/73
1.º Cabo Joel
Viola Pacheco – Guiné 1972/74
Soldado
Joaquim Romão Henriques – Guiné 1961/63
Soldado José
da Silva Carvalho – Moçambique 1968/70
Soldado Manuel
Maximiano Ferreira – Moçambique 1968/70
Soldado José
Antunes da Silva Campos – Angola 1971/73
Soldado
Avelino Lourenço Paulo – Moçambique 1971/74
Soldado Amadeu
José Rodrigues da Silva Ferreira – Angola 1972/74
Soldado
Diamantino Carreira Pereira da Cruz – Angola 1973/75
Furriel Miliciano António
Francisco dos Santos Janeiro – Angola 1973/75
“Recebo esta
distinção com alguma emoção. É um justo reconhecimento e
o mínimo que podia ser feito. Vem à memória muita coisa.
Fisicamente não sofri nada, mas passei quatro anos de
stress pós-traumático, com problemas de tabagismo e
alcoolismo que consegui ultrapassar, mas as mazelas dos
traumas ficam até aos dias de hoje. Era atirador com o
curso de minas e armadilhas. Vi camaradas serem feridos
em combate, felizmente que não tivemos mortos na
companhia. Temos almoços de confraternização e tenho
estado presente em outros eventos de ex-combatentes. Há
uma união, mesmo não nos conhecendo. Tenho 63 anos,
resido nas Caldas e fui economista nas Faianças Bordalo
Pinheiro”.
2.º Sargento Miliciano António
Miguel Simões Lopes Curto - Angola 1972/74
“Esta
distinção tem o seu quê. Porque foi atribuída há 40 anos
e é vergonhoso que só agora a entreguem, porque quando
foi concedida disseram-me que a tinha de comprar para a
receber. Vi agora um movimento no Facebook sobre estas
coisas e perguntei como fazer para receber. O nosso
governo faz muito mal aos combatentes. Há muita gente a
passar fome e não há preocupação e isso revolta. Era
enfermeiro em Cabinda e tinha uma área geográfica
grande. Estive debaixo de fogo pesado mas não sofri
nada, só que dois pelotões da minha companhia sofreram
um ataque e tivemos cinco mortos. Não tenho stress de
guerra, porque falo disto à vontade, mas o reviver
certas coisas mexe connosco. Tenho 64 anos e não segui a
carreira. Estive 23 anos no tribunal de Coimbra. Comecei
como escriturário e acabei como escrivão. Fui promovido
a secretário de justiça e passei para o tribunal de
trabalho das Caldas da Rainha até me aposentar em 2005”
Furriel Miliciano Rui Pereira
dos Santos – Moçambique 1968/70
“Achei a
distinção positiva, mas foi atrasada no tempo. A
concessão foi atribuída a 16 de abril de 1970 pelo
general comandante da região militar de Moçambique, só
que não foi recebida. Criaram depois um requerimento
para ser atribuída. Estou muito emocionado porque tinha
direito e parece que não me queriam dá-la, mas fiquei
muito honrado. Fui enfermeiro do hospital militar
territorial nº 2031, na Beira. Em dois anos, só uma vez
fui à morgue, porque chegaram vítimas estropiadas num
acidente. O resto eram pessoas com paludismo, malária,
tuberculose e hepatite. De stress nunca me queixei, mas
há coisas de que não me esqueço, com um ferido que teve
de ficar sem perna na sala de operações. Quando
regressei, deixei a enfermagem e passei para a área da
química e até voltei a Moçambique, onde fui gerente de
uma empresa de detergentes e inseticidas. Em Portugal
ainda sou vendedor de produtos plásticos, apesar de ter
70 anos. Resido em Santa Catarina, nas Caldas da
Rainha”.
Francisco Gomes