Operação "Nó Górdio"

Enviado por
João
Azevedo, ex-Alferes Mil.º do Esquadrão de Cavalaria
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De: João Azevedo
Enviada: quinta-feira, 14 de Dezembro de 2006 0:12
Para: UTW
Assunto: Ultramar: Guerra Colonial - Generalidades
SUBSÍDIOS PARA OP.
NÓ GÓRDIO
MOÇAMBIQUE JULHO
1970
Transcrição com a
devida vénia, do livro já referido do Exmo. Senhor
Coronel Matos Gomes. A pág. 60 do mesmo: “(…) As acções
de manutenção do cerco constituíram uma operação muito
delicada e que não produziu os resultados esperados,
como é reconhecido no relatório da operação. O cerco,
com um perímetro superior a 140 Kms, assentava em
emboscadas montadas por grupos de combate das companhias
de caçadores que permaneciam durante dois dias no seu
sector. O primeiro factor que prejudicou o êxito desta
manobra resultou do facto de ser muito difícil a
qualquer tropa, mesmo muito treinada e determinada,
manter o silêncio e a vigilância durante longos períodos
de tempo. Na realidade, a localização das emboscadas do
cerco foi rapidamente descoberta pelos guerrilheiros,
que facilmente as evitavam. Acresce ainda que as tropas
destinadas a esta missão eram escassas e quase todas
constituídas por companhias desgastadas em fim de
comissão, ou recém-chegadas, em qualquer dos casos com
baixa operacionalidade. Seis destas unidades nunca
tinham combatido
em Cabo Delgado.
O outro elemento do
cerco eram os patrulhamentos descontínuos feitos pelos
esquadrões de reconhecimento ao longo dos itinerários do
cerco. Estas unidades correram os maiores riscos,
pois estiveram sujeitas às minas que os guerrilheiros
montavam e às emboscadas que realizavam, contra as quais
dispunham de fracos meios, pois, quer as
auto-metralhadoras Fox, quer as AML Panhard eram
inadequadas para um ambiente de minas, e em vez de
garantirem alguma protecção às suas tripulações
transformavam-se num perigo adicional de encarceramento
e carbonização após um rebentamento, pois este provocava
de um modo geral o incêndio da viatura. Morreram nestas
circunstâncias cinco militares portugueses, entre os
quais o capitão comandante do esquadrão de AML (ERec.
1).”
Mais adiante a pág.
83 revela: “(…) O número de mortos das forças
portuguesas na operação “Nó Górdio” foi 5,4 vezes
superior à média da Guerra Colonial (1/1000) e boa parte
dessas baixas foram sofridas pelas unidades que
patrulhavam os itinerários do cerco, ou por forças em
deslocamento na “picadas” de acesso ao núcleo central, e
em menor percentagem, pelas unidades de assalto, que
sofreram poucas baixas em combates de encontro, o que
revela não ter a Frelimo caído na armadilha como
pretensão de Kaulza de Arriaga(…)”.
Também Manuel Pereira
Martins, ex- Furriel Miliciano, no seu livro “MEMÓRIAS
DE UM TEMPO PERDIDO” descreve a pág.
99 a
102 com o subtítulo – A Temeridade Suicida, o episódio
ocorrido no Cerco Sul e que levou à morte de 6
camaradas, entre eles o Cap. Faria Affonso. Foi uma
barbaridade quanto a mim, qualquer dia transcrevo o que
relata o Manuel Martins.
A participação
activa na Operação, e o conhecimento do seu teatro, leva
a um melhor entendimento sobre o que na realidade se
passou. Foi um mês difícil para as tropas mandadas
estacionar em Mueda.
As baixas começaram
logo no 1º Dia da Operação, quando o 1º Pelotão do Esq.
Cav. 2 saíu do Sagal e foi logo emboscado, tendo sido
atingido o “rebenta-minas com uma granada que deflagrou
por baixo da cadeira do condutor e que lhe ceifou as
pernas. Prontamente socorrido, pois já era manhã, caso
contrário seria mais uma baixa por morte. O grave da
questão é que o 2º Pelotão sob o meu comando saiu na
noite anterior com destino ao “Chindorilho”, teve a
avaria de uma FOX e felizmente nada mais ocorreu, tendo
regressado ao Sagal pela uma da manhã. Eu próprio fiz
uma chamada de atenção antes da saída, ao Coronel C.
Rodrigues, responsável pelo cerco Norte, que me
respondeu que antes de dar a ordem havia metido a cabeça
no frigorífico. Irresponsável sem pés nem cabeça. Depois
foi só agravar de acontecimentos.
Esta é uma História
por contar.
João Azevedo
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