Manuel Marques Sardão, Soldado Maqueiro,
da CCS/BCac554
"Pouco se fala hoje
em dia nestas coisas mas é bom que para
preservação do nosso orgulho como Portugueses,
elas não se esqueçam"
Barata da Silva, Vice-Comodoro
HONRA E GLÓRIA
Fontes:
Elementos cedidos por um
colaborador do portal
UTW
5.º Volume, Tomo I,
pág.s 102 e 103, da
RHMCA / CECA / EME
7.º
Volume, Tomo I, pág.s
176 e 177,
da RHMCA / CECA / EME
8.º Volume, Tomo I,
Livro 1, pág. 425,
da RHMCA / CECA / EME
Jornal do Exército, ed.
101, pág.s 12 e 13, de
Maio de 1968
Revista "Combatente",
ed. 250, de Dezembro de
1992
Imagens dos distintivos
cedidas por Carlos
Coutinho
RTP Arquivos
HERÓI NACIONAL
Manuel
Marques Sardão
Soldado Maqueiro, n.º 1898/63
Companhia
de Comando e Serviços (CCS)
Batalhão de Caçadores 554
(BCac554)
«NON NOBIS»
Angola: 14Dez1963 a 22Out1965
Ordem Militar da Torre e Espada,
do Valor, Lealdade e Mérito, grau
Cavaleiro, com palma
(Título Póstumo)
Em Santo Amaro da Boiça, Largo do
Cruzeiro - Outubro de 1992:
Homenagem e inauguração do busto
de Manuel Marques Sardão
Revista "Combatente",
ed. 250, de Dezembro de
1992
MANUEL
MARQUES SARDÃO
HERÓI DA GUERRA DO ULTRAMAR
Mais
do que as palavras, valem os actos.
Mas as palavras, recordando os
actos, reconhecendo-os pública e
solenemente, têm sempre a
importância de contribuir para
perpetuar a lembrança dos efeitos,
de os fazer sair do anonimato, que o
tempo tende a atirar para a frieza
do esquecimento.
Terão sido os casos de tantos homens
que se bateram admiravelmente na
guerra do Ultramar. Teria sido o
caso de Manuel Marques Sardão, um
jovem soldado-maqueiro, que, em
Angola, em Outubro de 1965 tombou na
sequência de uma emboscada.
Manuel Marques Sardão nasceu em
Santo Amaro da Boiça, pequena
localidade a cerca de três
quilómetros de Maiorca, a cuja
Freguesia pertence, no Concelho da
Figueira da Foz.
Mobilizado pelo Regimento de
Infantaria de Tomar [RI15], no mato
de Angola terminou os seus dias. Em
singulares condições, que o
«Combatente» narrou na sua edição de
Abril de 1989. Episódio sangrento,
que, neste número, com a propósito,
transcrevemos:
«Ferido de morte, ajudou a rechaçar
o inimigo e depois, arrastando-se,
foi socorrer os companheiros. Desde
o primeiro instante do ataque que o
Soldado sabia que a vida
irremediavelmente se lhe escapava.
Mas à custa de inusitada coragem, de
espantosa força de alma, de
sobre-humana vontade de cumprir,
conseguiu resistir alguns minutos
mais, para acudir aos que precisavam
de ajuda. E esses poucos minutos,
que o Soldado roubou à Eternidade,
tornaram-no eterno, na Galeria dos
Heróis, que, conscientemente, se
sacrificaram pela Pátria».
Por alvará de 27 de Maio de 1966,
Manuel Marques Sardão foi agraciado,
a título póstumo, com o Grau de
Cavaleiro, com Palma, da Ordem
Militar da Torre e Espada do Valor,
Lealdade e Mérito. Anteriormente, a
4 do mesmo mês, fora promovido por
distinção a Furriel do Serviço de
Saúde.
Em 9 de Abril de 1989, na Batalha, o
Pai, Manuel Maria Sardão (falecido
há poucos meses), entregou as
condecorações do filho à Liga dos
Combatentes, hoje depositadas no
Museu das Oferendas. O Engenheiro
Eurico de Melo (então Ministro da
Defesa Nacional) e o General Altino
Magalhães cumprimentaram aquele
homem do Povo, aquele Pai humilde,
que chorava lágrimas de saudade, mas
também de orgulho pelo comportamento
do filho que perdera.
********
Em Outubro, completados 27 anos
sobre a morte de Manuel Marques
Sardão, a sua memória foi
consagrada, numa evocação realizada
na aldeia onde nasceu, por
iniciativa da Junta de Freguesia de
Maiorca, a qual desde logo recebeu o
apoio do Chefe de Estado
(representado pelo Ministro da
Defesa Nacional); de Deputados; do
Presidente do Município da Figueira
da Foz; do Governador Civil de
Coimbra; do Comandante da Região
Militar do Centro; dos Comandantes
da Escola Prática dos Serviços de
Transportes e da Base Aérea de Monte
Real; do Presidente da Direcção
Central da Liga dos Combatentes; e
de outras destacadas
individualidades civis e militares.
Cumpre-nos
registar que da Comissão Executiva
das cerimónias fizeram parte, para
além da Junta de Freguesia,
familiares de Manuel Marques Sardão,
o Núcleo da Figueira da Foz da Liga
dos Combatentes e diversas
colectividades regionais.
Passada revista a uma Força Militar
(constituída por elementos da Escola
Prática dos Serviços de Transportes
e da Banda da Região Militar do
Centro) pelo Ministro Fernando
Nogueira, foi celebrada missa de
corpo presente pelo Capelão do
Regimento de Infantaria de Tomar.
Em romagem, a urna de Manuel Marques
Sardão foi levada da capela para um
mausoléu construído no cemitério
novo do lugar, sendo-lhe aí
prestadas as honras militares da
ordenança.
O titular da pasta da Defesa
Nacional inaugurou um busto em
bronze do herói, erigido no Largo do
Cruzeiro, depositando, depois, um
ramo de flores. Visitou, ainda, uma
exposição documental e fotográfica,
que incluiu fotografias, aerogramas,
cartas e recortes de jornais da
época, relacionados com a morte de
Manuel Marques Sardão, tendo-lhe
sido oferecido um exemplar da
medalha comemorativa da homenagem.
Por outro lado, a toponímia de Santo
Amaro da Boiça ficou enriquecida com
a inscrição do nome de um Militar
que honrara a sua terra natal.
Dos sobreviventes da fatídica
emboscada, estiveram presentes
António Malcatanho (ex-Alferes
Miliciano que comandava a coluna),
Ângelo Rodrigues (que, apesar de
cego do olho direito, não abandonou
o combate e, por isso, igualmente
recebeu o Grau de Cavaleiro, com
Palma, da Ordem Militar da Torre e
Espada do Valor, Lealdade e Mérito,
sendo promovido a Furriel) e José
Fernandes (condutor).
Junto ao busto de Manuel Marques
Sardão, foram produzidos os
seguintes discursos:
ANTÓNIO SIMÕES DE JESUS
Presidente da Junta de Freguesia de
Maiorca
Há 27 anos foram as gentes desta
terra surpreendidas com a perda dum
filho seu. Tratava-se de MANUEL
MARQUES SARDÃO, o filho de Manuel
Sardão, que morreu em combate na
guerra do Ultramar.
No ano seguinte foi de novo o
relembrar da tragédia, quando seu
pai recebeu no Terreiro do Paço, em
Lisboa, das mãos do Chefe do Estado
Português [Almirante Américo Deus
Rodrigues Tomaz], a condecoração que
o Governo Português decidiu atribuir
a quem perdera a vida em DEFESA DA
PÁTRIA. Era o mais alto galardão
atribuído a um soldado.
Para melhor se ajuizar do valor de
humanismo de MANUEL MARQUES SARDÃO,
que foi Soldado-Maqueiro, vou ler a
VV. Ex.ªs o louvor que deu origem a
que fosse agraciado com o GRAU DE
CAVALEIRO, COM PALMA, DA ORDEM
MILITAR DA TORRE E ESPADA DO VALOR,
LEALDADE E MÉRITO.
«Considerando que o comportamento do
Soldado-Maqueiro MANUEL MARQUES
SARDÃO, debaixo de fogo, quando uma
coluna de reabastecimento em que
seguia integrado sofreu uma
emboscada que, de modo fulminante,
reduziu o pessoal a cinco homens,
foi altamente meritório;
Considerando que apesar de
mortalmente ferido pelas primeiras
rajadas teve ainda forças para usar
a sua arma e dar aos camaradas
sobreviventes a sua colaboração,
contribuindo assim para que o
inimigo fosse posto em fuga e
abandonasse material de grande
importância;
Considerando que, alheio ao seu
estado, em seguida, no local de
combate e no exercício da função da
sua especialidade, abnegadamente
socorreu os camaradas feridos, até
que a morte o surpreendeu no
desempenho da sua Nobre Missão;
Considerando esta atitude heroica,
nobre e corajosa de excepcional
abnegação e sacrifício pela PÁTRIA e
pela Humanidade;
Por alvará de 27 de Maio de 1966,
publicado no Diário do Governo N.º
144, 2.ª Série de 25 de Junho do
mesmo ano, foi agraciado, a título
póstumo, com o GRAU DE CAVALEIRO,
COM PALMA, DA ORDEM MILITAR DA TORRE
E ESPADA DO VALOR, LEALDADE E MÉRITO
o Soldado-Maqueiro MANUEL MARQUES
SARDÃO».
Foi ainda promovido por distinção a
Furriel do Serviço de Saúde, a
título póstumo, por despacho de sua
Exa. o Ministro do Exército, em 4 de
Maio de 1966.
Pois bem, a este Herói Nacional, que
tão jovem perdeu a vida, não poderia
também a sua Terra Natal deixar de
prestar a devida Homenagem.
E que melhor momento do que este em
que se completam 50 anos do seu
nascimento para recordar e perpetuar
a figura heroica e humanitária de
MANUEL MARQUES SARDÃO, senão erguer
este monumento em sua Memória, na
sua terra e na presença dos seus
camaradas que antes de morrer ajudou
a salvar, e que hoje aqui estão a
associar-se a esta mesma homenagem
com a sua presença.
Não queria deixar de exprimir
publicamente o meu profundo
agradecimento, em nome da Junta de
Freguesia de Maiorca, ao Senhor
Engenheiro Aguiar de Carvalho,
Presidente da Câmara Municipal, pela
forma como se interessou e apoiou
desde o início esta homenagem, que
irá sem dúvida ficar na memória das
gentes desta terra.
A
presença de V. Exa., Senhor Ministro
Dr. Fernando Nogueira, é uma grande
honra e simboliza todo o interesse e
apoio que deu e manifestou à
realização desta homenagem logo que
esta lhe foi dada a conhecer.
Gostaria ainda de salientar e
agradecer todo o apoio dado a esta
iniciativa pelo Senhor Governador
Civil Engenheiro Pedroso Lima.
Não quero deixar de exprimir o meu
agradecimento ao Senhor General
Altino Magalhães, Presidente da Liga
dos Combatentes, ao Senhor Coronel
Cachulo, Comandante da EPST, e ao
Senhor Major Traveira, pessoas que
pessoalmente se empenharam nesta
realização.
Muito me apraz ainda o apoio que Sua
Excelência o Senhor Presidente da
República, manifestou a esta
homenagem, logo que dela teve
conhecimento, delegando a sua
representação em V. Exa. Senhor
Ministro Dr. Fernando Nogueira.
Que esta homenagem pública a MANUEL
MARQUES SARDÃO, hoje aqui realizada,
seja também uma homenagem a todos os
Militares que perderam a vida na
Guerra do Ultramar.
GENERAL ALTINO MAGALHÃES
Presidente da D. C. da Liga dos
Combatentes
Apenas algumas breves palavras
para exprimir à Exma. Junta de
Freguesia de Maiorca, o maior apreço
pela iniciativa e por todos os
esforços que despendeu para a
realização do importante acto de
justiça, que se consubstancia na
edificação deste Monumento. Faço-o
em nome da Liga dos Combatentes, na
representação que me incumbe fazer
dos cerca de 45000 associados desta
Instituição patriótica, de
assistência e beneficência.
Não quero deixar de exprimir também
igual apreço à Exma. Câmara
Municipal da Figueira da Foz pela
forma pronta e decidida como apoiou
a iniciativa da Junta de Freguesia e
lhe concedeu os contributos
indispensáveis para levar a bom
termo a construção desta obra.
Não devo, ainda, deixar de salientar
devidamente a forma pronta e aberta
como V. Exa. Senhor Ministro da
Defesa Nacional, Dr. Fernando
Nogueira, acarinhou pessoalmente a
ideia da construção deste Monumento
e a apoiou, através da Liga dos
Combatentes, desde o momento que
dela teve conhecimento. A presença
de V. Exa. neste acto, Senhor
Ministro, demonstra bem e confirma,
só por si, a atenção e os cuidados
que lhe merecem a consagração e a
dignificação dos nossos combatentes.
De facto, no âmbito do exercício das
suas altas funções de principal
responsável pela defesa do nosso
País, V. Exa. tem dado permanentes
testemunhos destes cuidados e
atenções, enquadrados numa clara
preocupação de promover e exaltar a
vontade da defesa nacional, sem a
qual nada de consistente se pode
construir nesta matéria de
importância vital para a continuação
da Pátria. Bem haja por tudo, Senhor
Ministro.
O Monumento que a Junta de Freguesia
de Maiorca agora levanta simboliza o
preito e o reconhecimento públicos
devidos a um Português, aqui
nascido, que soube honrar o nosso
País, no cumprimento do dever cívico
e indeclinável da defesa da Pátria.
Consagra também um exemplo
verdadeiramente notável de coragem
física e moral, de doação e de amor
ao próximo.
Manuel Marques Sardão, jovem de 20
anos de idade, soldado-maqueiro do
nosso Exército, encontrou a morte,
como todos sabemos, em combate no
Norte de Angola, no dia 22 de
Outubro de 1965, há cerca de 27
anos. Ferido gravemente, logo no
início do ataque desencadeado contra
a pequena força militar de que fazia
parte, integrou-se mesmo assim, de
imediato, valorosamente, no combate
pelas armas em defesa dos poucos
sobreviventes. Em seguida, repelidos
os atacantes, indiferente à
gravidade dos seus próprios
ferimentos, entregou-se a cuidar dos
seus camaradas feridos. E foi assim
que chegou ao fim das suas forças e
dos seus dias: — morreu exangue em
consequência dos ferimentos
recebidos. No acto da sua morte foi
igual a si próprio, ao que foi
sempre ao longo de toda a vida: — um
homem bom, generoso, amigo de tudo e
de todos, com um sentido de
companheirismo verdadeiramente
excepcional e notável, sempre pronto
a todos os sacrifícios por amor ao
próximo, por doação a Portugal.
Neste Monumento é prestada a justiça
de o imortalizar no bronze. E também
de imortalizar o exemplo cívico que
nos deixou, de patriotismo, de
solidariedade humana, tão
necessários agora e sempre, em todos
os actos da nossa vida, para bem
servirmos a humanidade e a nossa
Pátria.
Mais palavras para quê?
Recolhamo-nos respeitosamente
perante a memória do
soldado-maqueiro Manuel Marques
Sardão. E saudemo-la festivamente,
gloriosamente, na expressão do nosso
épico, quando diz: — «Ditosa a
Pátria que tal Filho tem.
ENGENHEIRO AGUIAR DE CARVALHO
Presidente do Município da Figueira
da Foz
Reunimo-nos hoje para relembrar e
evidenciar as qualidades e atributos
de Manuel Marques Sardão,
condecorado, como é do conhecimento
público, com o Grau de Cavaleiro da
Ordem Militar da Torre e Espada, do
Valor, Lealdade e Mérito.
Independentemente de épocas,
indiferentes às exigências efémeras
ou sob qualquer regime político, os
valores por ele expressos, em
momentos decisivos da sua vida,
constituem segmentos intocáveis da
natureza humana.
Numa sociedade cada vez mais marcada
pela materialidade, pela tecnologia
e por teorias redutoras da História,
urge encontrar elementos valorativos
que promovam a espiritualidade, que
refundam alguns arquétipos
filosóficos e que elevem a vida
quotidiana a planos que corporizem a
racionalidade.
Sabemos todos nós, pela nossa
experiência, que nem todos os
valores do passado podem sobreviver.
Há uma evolução permanente. De
hábitos, de práticas, de
perspectivas, de visões do Mundo, da
ciência, da técnica e, naturalmente,
das instituições.
Mas há que evitar uma ruptura entre
essa evolução, hoje extremamente
rápida, e uma exigência ou um
conjunto normativo que, ao longo de
séculos, tem constituído um
verdadeiro cimento na multiplicidade
das relações humanas.
Significa isto algo de muito
importante.
Há atitudes do espírito, já que elas
exprimem e nos dão conta, de uma
forma transparente, da
responsabilidade dos homens, que não
podem deixar de sobreviver.
Essas espiritualidades são, no
fundo, as que podem dar um sentido à
existência material, ao mundo
técnico e, de uma forma geral, à
História.
Sem a perenidade desses atributos e,
na nossa modernidade, sem uma luta
constante para uma democracia
económica e política e sem um
projecto para o conjunto da
sociedade e para a singularidade das
pessoas, estará aberto o caminho
para um futuro de equívocos, de
violências entre nações, de
conflitos inter-raciais e de claras
tendências chauvinistas que,
amarguradamente, começam a
proliferar um pouco por toda a
Europa.
Nenhum de nós poderá ficar
indiferente a possíveis evoluções
negativas das nossas sociedades,
algumas delas já com elevado nível
de bem-estar material, cabendo-nos
interiorizar um conjunto de
convicções comuns e em que os
conflitos têm como cenário a
democracia, entendida como instância
política onde as diferenças são
respeitadas.
Ter-se-á de entender,
definitivamente, que a vocação
humana implica uma realização
individual perfeitamente
singularizada, que nada tem a ver
com o individualismo, mas, tão só,
com a comunidade onde se insere.
Convenhamos da necessidade de haver
uma moralidade na nossa vida social
e política.
E o acto do então soldado-maqueiro
Manuel Marques Sardão, na antiga
colónia angolana, assume
inequivocamente uma dupla moralidade
— a da convicção e da
responsabilidade.
Convicção e responsabilidade, pedras
basilares do comportamento. Foi isso
que ele nos legou. Foi isso que ele
demonstrou.
Aqui estamos para o assinalar.
São estas palavras que eu quero
deixar expressas aos familiares de
Manuel Marques Sardão, a quem
manifesto a minha gratidão,
decorrente das palavras que acabo de
proferir.
A Sua Excelência o Senhor Ministro,
às mulheres e homens desta
freguesia, um muito obrigado pela
vossa presença neste acto singelo e
a que atribuo um significado
especial.
DR. FERNANDO NOGUEIRA
Ministro da Defesa Nacional
Senhores
Deputados, Senhor General Comandante
da Região Militar do Centro, Senhor
Governador Civil do Distrito de
Coimbra, Senhor Presidente da Câmara
Municipal da Figueira da Foz, Senhor
Presidente da Junta de Freguesia de
Maiorca, demais entidades civis e
religiosas, Senhores familiares de
Manuel Marques Sardão, povo de
Maiorca.
Encontro-me aqui na qualidade de
Ministro da Defesa e também na
honrosa situação de representar o
Senhor Presidente da República,
circunstância que muito aprecio.
Mas encontro-me sobretudo como
português que quis associar-se
convosco a uma homenagem que
interpreto ser dirigida não apenas a
Manuel Marques Sardão, mas também a
todos os Combatentes Portugueses.
Todos os Combatentes de ontem, de
hoje e de sempre, e também aos de
amanhã se tal for necessário.
Muitas vezes com alguma
superficialidade, nós vemos alguns
pseudo-intelectuais ou pensadores a
subvalorizarem o papel das Forças
Armadas e dos militares em geral. A
resposta inequívoca está dada por
vós, a exemplo de muitas outras
terras de Portugal, que sabem
distinguir o trigo do joio. Que
sabem sentir a Pátria e
identificar-se com as suas Forças
Armadas.
Muitas vezes os Povos têm uma
memória relativamente curta. Muitas
vezes a gratidão é varrida dos
pensamentos e das emoções das
pessoas, a tal ponto que mesmo
alguns pensadores o referem, e
ocorre-me o Padre António Vieira
quando diz: «Se tu fizeste tudo
quanto podias pela tua Pátria
cumpriste o teu dever. Se Ela não te
reconheceu fez o que é costume».
Não é o que se verifica aqui neste
momento.
A vossa atitude demonstra que os
feitos heroicos, aquilo que toca no
seu íntimo, as comunidades, as
pessoas, não é esquecido. E quando
se luta por ideais, quando se age
enformado pelos mais nobres
sentimentos humanos, como a
solidariedade, o companheirismo, a
disponibilidade para ajudar o
próximo, o povo, esse, não esquece e
mantém presente na sua memória a
existência daquelas que, por feitos
gloriosos, se libertaram da morte.
Manuel Marques Sardão, como todos
sabeis, teve um comportamento
heroico que no fundo é um
comportamento profundamente humano.
A capacidade de dedicação aos
outros, a disponibilidade por lutar
por aquilo que acreditava, a
generosidade de estar a ser
solidário de forma permanente levada
às últimas consequências.
O Senhor General Presidente da Liga
dos Combatentes Portugueses lembrou
Camões e disse que «Bendita Pátria
que tal filho tem». Eu apenas
acrescentaria, glosando Camões,
«Maiorca, bendita terra que tal
filho tem». Obrigado.