Com a chegada da manhã, do dia 10 de
Abril de 2011, chegava o dia “D”, ou
melhor, dia “H”, de homenagem.
Tudo começara com o envio em 1 de Março,
de um texto, datado de 23 de Fevereiro anterior, sobre o
Monumento aos Mortos da Grande Guerra, do Concelho de
Loures, para as páginas de Luís Graça e Camaradas da
Guiné (publicado em 4 de Março (post 7897) e Ultramar
Terra Web (publicado em 2 de Março), cujo texto também
foi enviado aos Presidentes das Câmaras Municipais de
Loures e Odivelas e Presidente da Liga dos Combatentes
(anteriormente, Liga dos Combatentes da Grande Guerra).
Foi o Presidente da Câmara Municipal de
Loures que, delegando no seu Chefe de Gabinete, Senhor
António Baldo, e no seu Assessor, Senhor António
Maurício, deu início à organização dessa homenagem.

Monumento aos Mortos
da Grande Guerra do Concelho de Loures.
Inaugurado em 8 de
Dezembro de 1929
© Foto Hugo Gonçalves
(LC)
Quando nos encontramos, por convite
telefónico dos mesmos no dia 1 de Abril, já tinham
esquematizado a cerimónia, que, por deferência, não
queriam dar como concluída sem trocar impressões
connosco.
A partir desse momento, como havíamos
escrito no final do texto já referido, tínhamos a
certeza de que não estaríamos sós.
À chegada, fui informado pelo Assessor
Sr. António Maurício que, por sugestão sua e prontamente
aceite pelo Presidente da Câmara, competiria ao
proponente da homenagem, proceder ao hastear da Bandeira
Nacional, bandeira essa pela qual, quarenta anos antes,
tinha combatido nas matas da Guiné.
A Banda de Música dos Bombeiros
Voluntários de Loures, sob a direcção do Maestro Hélio
Salsinha Murcho, executou o Hino Nacional, ao som do
qual a Bandeira das Quinas subiu no mastro principal dos
Paços do Concelho.

Chegada da Banda dos
Bombeiros Voluntários de Loures, frente aos Paços do
Concelho.
© Foto Hugo Gonçalves
(LC)
Depois deste acto solene e, já junto ao
monumento, tomaram lugar os senhores António Baldo,
Chefe de Gabinete da Presidência e em representação do
Presidente da Câmara, o vereador Paulo Piteira, o
presidente da Junta de Freguesia de Camarate, Arlindo
Cardoso, a representação da Liga dos Combatentes
composta pelo seu presidente, Tenente-General Joaquim
Chito Rodrigues e o Secretário-Geral, Coronel Adalberto
Travassos Fernandes, José Marcelino Martins, sócio da
Liga dos Combatentes e antigo Combatente na Guiné,
representantes da Policia de Segurança Pública e Guarda
Nacional Republicana. As Corporações de Bombeiros
fizeram-se representar com os seus Estandartes e Guiões,
estando presentes, alem da Corporação de Loures, as
Corporações de Fanhões. Moscavide-Portela, Sacavém e
Camarate, demais convidados, representando as forças
vivas do Município, assim como muito público.
O Reverendo Padre João Fernando Bento
Inácio, que representava a Igreja Católica e a Paroquia
de Santa Maria de Loures, proferiu uma oração pelos
Soldados de Portugal caídos em defesa da Pátria,
lembrando que o seu esforço e sacrifício seriam
lembrados pelas gerações vindouras, como acontecia
naquele momento.
Aqui também é de referir que, muitos
sacerdotes foram incorporados nas nossas forças armadas,
fazendo parte de diversas unidades, tendo como missão
não só manter uma presença espiritual junto das tropas,
mas também, com a sua palavra e sua amizade, ajuda-los a
cumprir a sua missão de combatentes. Eles também corriam
risco como os restantes militares, dado que percorriam
os diversos destacamentos, ficando sujeitos à
perigosidade do momento, e, muitos deles, recusavam,
pura e simplesmente, serem portadores de arma, mesmo de
defesa pessoal.
O Reverendo Padre João
Fernando Bento Inácio a proferir a sua Oração.
© Foto Hugo Gonçalves
(LC)
Seguiu-a uma homenagem à Mulher
Portuguesa que, ao longo da nossa história, sempre
esteve ao lado dos militares. Não posso esquecer,
sobretudo nesta altura, o caso de minha Mãe que, com
seis anos de idade se despediu do pai, quando este
embarcou para França, integrado Batalhão do Regimento de
Infantaria nº 7 de Leiria, do Corpo Expedicionário
Português, e que, aos sessenta anos vê partir um dos
seus filhos para a Guiné, para integrar a Companhia de
Caçadores nº 5, da guarnição provincial.
Exmªs. Autoridades Civis, Militares e
Eclesiásticas
Minhas Senhoras e Meus Senhores
Caros Combatentes
Antes de prestarmos a nossa homenagem
aos camaradas que, ao longo da nossa história tombaram
em defesa da Pátria Portuguesa, não queremos deixar de
homenagear, aqui e agora, a mulher portuguesa, na figura
da Mãe, da Esposa, da Noiva, da Irmã, da Madrinha de
Guerra, que sempre foram o apoio incondicional do
combatente.
·
Foram Elas que, no cais
de embarque acenaram o lenço de despedida;
·
Foram Elas que, no
silêncio da noite, chorando, rezaram por todos e cada um
de nós;
·
Foram elas, muitas
delas, que, com o coração desfeito, receberam a fatídica
notícia;
·
Foram elas que, com as
suas cartas e aerogramas, alimentaram a nossa esperança
no regresso;
·
Foram elas que, quando
regressamos nos ajudaram a encontra o caminho, pois
tínhamos perdido o rumo da vida.

José Marcelino
Martins, antigo combatente, lendo o seu texto de
homenagem á Mulher Portuguesa.
© Foto Hugo Gonçalves
(LC)
Prestemos também homenagem à mulher
enfermeira, às Damas Enfermeiras que, durante a Grande
Guerra permaneceram à cabeceira dos feridos e doentes, e
às Enfermeiras Paraquedistas, que na Guerra de África,
sempre que solicitadas, desceram do céu ao campo de
batalha, qual Anjo da Guarda, trazendo a esperança de
vida, quando a morte tentava levar mais um camarada.
A Elas, às Mulheres que nos
acompanharam em campanha e às Mulheres que nos
acompanharam ao longo da vida, enfim, às nossas queridas
Mulheres, o nosso terno e eterno reconhecimento.
Bem hajam!”
Cabe aqui, invocar numa breve resenha
histórica a constituição da Liga dos Combatentes,
anteriormente designada por Liga dos Combatentes da
Grande Guerra. A ideia surge logo após o Armistício e o
regresso dos combatentes à Pátria que, animados um forte
espírito de fraternidade, sentem a necessidade de se
associarem, não só para uma melhor defesa dos seus
interesses, mas também para ajudarem os camaradas mais
necessitados, assim como as viúvas e órgãos de guerra.
A tentativa feita por João Jayme de Faria
Affonso, em 1919, sai gorada, mas não desiste. Em 1921,
em conjunto com o 1º Tenente Horácio Faria Pereira e o
Tenente Joaquim de Figueiredo Ministro, unem esforço
para dar forma e constituir a Liga que, com o apoio dos
Tenentes-Coroneis Ferreira do Amaral e Francisco Aragão
conseguem, no ano de 1923, realizar uma reunião com
diversos combatentes, de onde saem os primeiros corpos
directivo.
A Liga dos Combatentes da Grande Guerra é
oficializada em 29 de Janeiro de 1924 (Portaria nº 3888)
e o seu estandarte aprovado e autorizado o seu uso em
cerimónias oficiais em 16 de Março de 1929.
O representante da
Direcção Central de Liga dos Combatentes, usando da
palavra.
© Foto Hugo Gonçalves
(LC)
Depois desta breve memória, retomemos a
cerimónia que teve a intervenção do Presidente da
Direcção Central da Liga dos Combatentes, Tenente
General Joaquim Chito Rodrigues que, falando de
improviso, realçou a “instituição que se bate pelos
valores históricos e pelo apoio e garantia dos direitos
aos mais necessitados, destacando que a associação conta
com 93 núcleos”, distribuídos pelo país e
estrangeiro tendo, também, “realçado a acção do
Combatente Português ao longo do século XX, na Grande
Guerra, na Guerra do Ultramar e nas Missões de Paz,
lançando um apelo para a criação de mais um Núcleo da
Liga e o levantamento de um Monumento aos Combatentes da
Guerra do Ultramar, na cidade ou na região”.
Recuperou o último capítulo do texto
acima referido ““Se mais ninguém estiver presente,
eu, pelas 11 horas da manhã do dia 10 de Abril deste
ano, no dia seguinte ao Dia do Combatente, deixarei
junto ao monumento que perpetua a presença dos
Portugueses na Grande Guerra na Europa e em África, uma
flor e a minha oração em memória dos que tombaram pela
Pátria desde 1139, desde a vitória de D. Afonso
Henriques na batalha de Ourique”, terminando a sua
intervenção com um poema de Sofia de Mello Breyner:
“Nem terror
Nem lágrimas
Nem tempo
Me separarão de ti
Que moras para além do vento”.
Vivam os Combatentes por Portugal,
Viva Portugal!
O orador seguinte foi António Baldo,
Chefe de Gabinete da Presidência da Edilidade que,
dirigindo-se às entidades convidadas e demais pessoas
presentes, disse:
“Em primeiro
lugar quero que saibam que é uma honra estar aqui, hoje
e agora, nesta simples mas significativa cerimónia, a
representar o Senhor Presidente da Câmara, o Engenheiro
Carlos Teixeira.
“…AQUELES QUE POR OBRAS VALOROSAS, SE
VÃO DA LEI DA MORTE LIBERTANDO…”, escreveu Camões na
intemporal obra “Os Lusíadas”, traduzindo o Valor e o
Heroísmo dos homens que se imortalizaram na construção e
na conquista de novos mundos e na defesa da Pátria.
Recordamos, hoje, a memória daqueles
que enfrentando as dificuldades e privações, culminaram
a sua dádiva com a maior entrega que um homem pode
fazer: O SACRIFICIO DA PRÓPRIA VIDA!
Exalto, também, a solidariedade entre
irmãos de armas, e convido-vos a elevar o pensamento
para todos os militares que representaram e defenderam
Portugal e a sua independência naquela que então foi
chamada como a Grande Guerra.
Saudemos o extraordinário sentido de
Missão, e de cumprimento do Dever, dos Militares
Portugueses que, agora como nesse tempo, cumprem as
obrigações decorrentes das determinações do poder
político.

O Chefe de Gabinete,
em representação do Presidente da Câmara de Loures,
proferindo a sua alocução.
© Foto Hugo Gonçalves
(LC)
Os Militares
Portugueses são reconhecidos internacionalmente, alvo
dos mais rasgados elogios dos nossos aliados e,
sobretudo, credores do integral respeito de toda a
comunidade nacional.
Foram treze anos, em África, em que as
Forças Armadas Portuguesas estiveram envolvidas numa
guerra que terminou. A liberdade que então chegou pôs
fim a uma terrível época, mas que deixou, em terras de
África, honra e brilhantismo fundamentais para o
reconhecimento e abertura a uma cooperação fraterna, com
os países irmãos que falam a mesma língua, e cujos
soldados verteram, também eles, o seu sangue no campo de
batalha, sofrendo, como os nossos, a dor da perda
Hoje é dia de homenagear os
Combatentes.
Cooperaremos com aqueles que, um dia,
estiveram do outro lado, mas que hoje dão as mãos num
espaço de partilha de valores, cultura, língua, laços
familiares e de interesses comuns, na batalha por um
futuro melhor, assente na democracia, no desenvolvimento
e na construção da paz.
Aproveito esta circunstância para
referir, também, todos os militares que cumpriram e
cumprem missões no além fronteiras, no âmbito dos
compromissos internacionais do Estado Português, como o
processo de Cooperação Técnico-Militar com países
africanos lusófonos ou, a presença, mo Iraque, no
Afeganistão, no Kosovo, na Bósnia, no Saara Ocidental ou
Líbano, fora de Portugal em cumprimento de Portugal.
A Nação está sempre em primeiro lugar
para o Soldado, e é em nome dessa Nação que combate.
É assim no Afeganistão, no Iraque ou
na Líbia. Foi assim em África, como também em São
Mamede, Em Badajoz, na Flandres, nas Linhas de Torres e
também, com certeza, em Aljubarrota.
Mas nenhum argumento justifica
qualquer falta de respeito por aqueles que combateram, e
que correram riscos em nome do Estado que honradamente
representam. Merecem, e sempre merecerão, o nosso
respeito e a perpetuação da sua memória.
Temos uma divisa para com estes homens
e mulheres. O Estado e a Sociedade estão em dívida para
com estes soldados, e nunca será suficiente a homenagem
que possamos prestar-lhes.
É portanto com humildade e gratidão
que hoje, eu, em nome do Senhor Presidente da Câmara de
Loures, do Município e em nome de todos os Munícipes,
deposito estas flores aqui, no Monumento aos Mortos da
Grande Guerra, numa homenagem sentida a todos os
Combatentes que deram a vida pela Pátria, e, em
especial, aqueles cujo nome está inscrito neste
monumento e a todos os Munícipes de Loures que
combateram em nome de Portugal.
Perdoem-me a ousadia, mas neste
momento sentido, para mim que sou militar, permito-me
evocar dois combatentes e militares, ainda vivos, que
admiro e respeito como exemplo constante e sempre
presente: o meu pai ANTÓNIO MARTINS BALDO e o meu sogro
CONSTANTINO TEIXEIRA.
Para todos os que partiram na defesa
de um ideal maior, cujo nome é Portugal, o meu respeito,
admiração e a certeza de que partiram com as palavras de
Camões no pensamento:
“ESTA É A DITOSA PÁTRIA MINHA AMADA”.
Viva Portugal!
Terminada a intervenção das entidades
promotoras da Homenagem, foi efectuada a deposição de
flores pelas mesmas entidades presentes e pelo público
em geral, junto do Monumento.
Colocação de flores na
base do Monumento pelos representantes da Edilidade e
Liga dos Combatentes.
© Foto Hugo Gonçalves
(LC)
Foram colocadas duas coroas de flores:
* Uma da Câmara Municipal, como tributo e
homenagem do Povo de Loures, aos seus militares caídos
durante os conflitos e aos que, tendo regressado,
deixaram o nosso convívio;
* A outra, da Liga dos Combatentes, como
preito de homenagem aos camaradas de armas caídos nos
conflitos que Portugal teve que enfrentar, desde a sua
nacionalidade até aos nossos dias. Teremos que referir
que muitos dos que regressaram, ou já nos deixaram ou
ainda estão entre nós, mas alguns, muitos, feridos na
alma e no corpo.
Após a colocação das flores junto do
Monumento, deu-se início aos “toques de Ordenança”
previstos para estas ocasiões:
Foi executado o “Toque de Silêncio”. É o
último toque que se ouve em cada dia nas unidades
militares. Convida-nos ao silêncio e ao descanso. Alerta
ficam as sentinelas, que velam pelo sono dos camaradas
que dormem, sendo ouvido apenas, espaçados, o grito de
“sentinela alerta” e a respectiva resposta. Com este
toque é como se os que ficaram velassem pelo sono dos
camaradas, que “adormeceram pela Pátria”. Os vivos velam
pelo descanso dos que partiram.
De seguida foi executado o toque de
“Mortos em Combate”. Homenagem, sentida, àqueles que
entregaram á Pátria o seu bem mais precioso: a própria
vida. É altura de louvar aqueles que, jurando defender a
Bandeira da Pátria, levaram ao extremo o seu sacrifício.
Neste momento, as forças presentes, encontram-se em
continência.
Mas, quando a noite termina, vem um novo
dia e uma nova esperança. É com esta forte convicção que
a evocação dos “nossos mortos” termina com o “Toque de
Alvorada” que mais não é que o acordar para um novo dia
e o renascer de uma nova esperança. Ouviram-se, de
seguida, os acordes de “A Portuguesa”, executada pela
Banda dos Bombeiros e o Nosso Hino foi entoado pelos
presentes.

Toque de “Mortos em
Combate”.
© Foto Hugo Gonçalves
(LC)
Num ambiente mais informal, foram
trocadas medalhas comemorativas, entre a Liga e a
Edilidade, sendo que a Câmara ofereceu à Liga dos
Combatentes a medalha comemorativa dos 100 anos da
Republica, que foi proclamada, em Loures, no dia 4 de
Outubro de 1910, um dia antes da proclamação em Lisboa e
no país.
Estava terminada a cerimónia, com a
convicção de que o momento que se vivia ainda, fosse o
reavivar de uma gratidão e lembrança aos que, desde
1139, tombaram pela Pátria, sempre que esta nos chamou.

Troca de Medalhas
Comemorativas
© Foto Hugo Gonçalves
(LC)

Pormenor do Monumento
aos Mortos da Grande Guerra - Loures
© Foto José Marcelino
Martins
José Marcelino Martins
Loures, 7 de Junho de 2011
josesmmartins@sapo.pt