Guerra do Ultramar: Angola, Guiné e Moçambique Automobilia Ibérica - Histórico Automóvel Clube de Entre Tejo e Sado (HACETS)

Início O Autor História A Viagem Moçambique Livros Notícias Procura Encontros Imagens Mailing List Ligações Mapa do Site

NOTÍCIA - Traumas de Guerra - Distúrbio Pós-Traumático do Stress de Guerra

 

enviado por Ilídio Costa

 publicado no "Público Magazine",

de 7 de Fevereiro de 1993

 

Rui Lopes

 

 

 

EU ESTIVE LÁ

Eu estive lá, onde o sol doía mais

onde os soldados dormiam suados sonos de pavor.

Com eles bebi o verde visgo das águas,

comi do pão que os deuses tinham esquecido.

Como eles abri o terror dos olhos

para a linha candente das árvores.

Eu estive lá, onde a terra era mais funda

para que nela coubéssemos,

onde a lama das mãos nos atingia o peito

no país sem pai, sem avós, sem família.

Eu estive lá, onde dos pés nascia o fogo,

onde a carne se enforcava nos mais altos ramos,

onde morrer era apenas morrer - sem palavras.

Sorvi o ar sem pombas, menos ainda brancas;

velhos abutres com os quais envelhecíamos

convosco me apertei no frio dos caixões,

dancei a dança das balas.

Eu estive lá, onde o tempo era sem tempo,

onde o silêncio era de sangue aceite,

onde o longe era cada vez mais longe.

Com esquecer?

Os minutos pesavam

entre o fragor do fogo e o cheiro a morte

e no céu parecia nunca haver estrelas.

de: Rui Lopes, ex-Alferes Mil.º

Voltar ao topo