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NOTÍCIA - Traumas de Guerra -
Distúrbio Pós-Traumático do Stress de Guerra
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enviado por
Ilídio Costa
publicado no "Público
Magazine",
de 7 de Fevereiro de 1993
Rui Lopes
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EU ESTIVE LÁ
Eu estive lá,
onde o sol doía mais
onde os soldados
dormiam suados sonos de pavor.
Com eles bebi o
verde visgo das águas,
comi do pão que
os deuses tinham esquecido.
Como eles abri o
terror dos olhos
para a linha
candente das árvores.
Eu estive lá,
onde a terra era mais funda
para que nela
coubéssemos,
onde a lama das
mãos nos atingia o peito
no país sem pai,
sem avós, sem família.
Eu estive lá,
onde dos pés nascia o fogo,
onde a carne se
enforcava nos mais altos ramos,
onde morrer era
apenas morrer - sem palavras.
Sorvi o ar sem
pombas, menos ainda brancas;
velhos abutres
com os quais envelhecíamos
convosco me
apertei no frio dos caixões,
dancei a dança
das balas.
Eu estive lá,
onde o tempo era sem tempo,
onde o silêncio
era de sangue aceite,
onde o longe era
cada vez mais longe.
Com esquecer?
Os minutos
pesavam
entre o fragor do
fogo e o cheiro a morte
e no céu parecia
nunca haver estrelas.
de:
Rui Lopes, ex-Alferes Mil.º
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