Enviado por vários
Veteranos da Guerra do Ultramar
José Alberto de
Moura Calheiros
José
Alberto de Moura Calheiros, nasceu em 13Ago1936 no Peso, Covilhã. Frequentou
o Curso de Infantaria da Escola do Exército (1954-1957).
Ingressou em 1959
nas Tropas Pára-quedistas, onde concluiu o 5º Curso de Pára-quedismo
militar e obteve o Brevet nº 358.
Cumpriu três comissões de serviço no Ultramar – Angola (1963-1965) e
Moçambique (1967-1969) como comandante de Companhia de Pára-quedistas e
Guiné (1971-1973) como 2º Comandante e Oficial de Operações do BCP12,
COP4 e COP5 e Comandante do COP3.
Em Tancos, foi Comandante do Batalhão de Instrução, Comandante do
Regimento de Caçadores Pára-quedistas e Comandante da Escola de Tropas
Pára-quedistas.
Nos seus três últimos anos de actividade como militar (1977-1981)
desempenhou funções de Chefe do Estado Maior do Corpo de Tropas
Pára-quedistas.
Passou à situação de Reserva em Fevereiro de 1981.
Licenciado em Finanças pelo ISCEF – Instituto Superior de Ciências
Económicas e Financeiras, passou então a desempenhar funções de técnico
economista no Ministério da Indústria, IPE – Instituto de Participações
do Estado e na Direcção Financeira de empresas. Mais tarde dedicou-se à
gestão de empresas.
Hoje está reformado e afastado de qualquer actividade profissional.
"Que diferença para Portugal!"
Texto de
José
Alberto de Moura Calheiros,
Coronel de Infantaria Pára-Quedista na situação de reforma
Que diferença para Portugal!
Aqui,
em Portugal, temos medo de abrir "caixas de
Pandora", se trouxermos os mortos cujas Famílias o
desejem! Repito, cujas
Famílias o desejem, nada mais!
Meu Deus! Até disso temos mêdo!
No Canadá, pelo que aqui se vê, não têm mêdo de
caixas de Pandora!
Na Austrália, as Forças Especiais S.A.S., ao fim de vinte anos de permanente pesquisa
(vinte anos!, leram bem?), encontraram agora os seus
últimos quatro militares mortos no Vietname e foram
buscá-los! E sabem quem foi ao Vietname
buscá-los? O Governo e os Chefes de Estado Maior,
entre outros! Fizeram funerais nacionais! Eu sei
que em alguns círculos militares se acha que, a
haver transladações desde o ex-nosso Ultramar, os
funerais devem ser feitos da forma mais discreta
possível (!!!!!!!!!!!!!!), sem que ninguém os veja
(!!!!!!!!!!!)! Canadianos, australianos e tantos
outros cidadãos do mundo pelos vistos não pensam
assim, pensam como eu!
Lá não conhecem ou pelo menos não
receiam Caixas de Pandora! E também
ainda não assumiram no seu Código de Honra que é uma
honra para os militares serem enterrados no campo de
batalha!!!!!!! Para mim, isto brada aos
céus!!!!! Que barbaridade! Aquelas não são
certamente Forças Armadas sem honra! Já agora, mais
honroso ainda, seria ser abandonado no campo de
batalha para ser "honrosamente" comido pela aves de
rapina e outros predadores! Esta, então deve ser a
"suprema honra"!
Quando
havia dificuldades de transporte ou aspectos
psicológicos a nível nacional a resguardar,
compreendia-se que os mortos fossem enterrados no
país onde faleciam. Mas hoje comemos maçãs da
Austrália, uvas da África do Sul, bananas da
Colômbia!
Fique a saber quem ler este mail,
que várias Famílias portuguesas têm ido buscar os
seus familiares
mortos ao serviço da Pátria
e que têm sido
obrigados a pagar tudo de seu bolso!
E é muito dinheiro! Em Moçambique até tiveram que
pagar no consulado a documentação necessária à
transladação! Da qual foram isentas pelas
autoridades de Moçambique! Merda de Políticos! (Peço
desculpa, mas é a palavra mais adequada!)
A LIGA DOS COMBATENTES propôs em devido tempo ao
Ministério da Defesa que fossem custeadas pelo
Estado todas as despesas de transladação dos
combatentes que estão em África e cujas Famílias a
desejassem! O Governo recusou!
E porque não dizer de nós,
militares do Q.P., o mesmo que aqui afirmo dos
políticos, ao permitirmos uma coisa destas! Somos
ainda piores que eles, pois fomos Comandantes
daqueles rapazes e permitimos isto!
O
que pensam disto os nossos Chefes Militares? Vamos
abandonar as Famílias dos nossos camaradas mortos em
combate e que eventualmente desejem a sua
transladação?
Nós,
militares, devíamos pedir-lhes para serem eles a
liderar este processo, na sua qualidade de lideres
da Instituição Militar!
Como, aliás, muito
dignificaram com a sua presença os funerais dos três
Pára-quedistas mortos em Guidage em 1973!
O que me custa suportar é saber
que há militares que entendem que a sua opinião
sobre este assunto deve estar acima da vontade das
Famílias dos rapazes que Elas NOS (a nós, militares
profissionais, seus ex-Comandantes e responsáveis
por eles!) confiaram!
Mais Famílias se estão a
movimentar no sentido de trazerem os restos mortais
de seus Filhos, talvez porque ainda sentem dor, em
vez de complexos de "caixas de Pandora" !
Num país (com p minúsculo) que
enviou um Falcon do Estado buscar os corpos de seis
empresários que foram para as putas (não fujamos às
palavras, como temos fugido da solução deste
problema!), em Fortaleza (Brasil), não há meia dúzia
de tostões para pagar o que as famílias estão a
pagar! Tenhamos vergonha!
Há quem afirme que os militares devem ser
enterrados no campo de batalha e que essa é a sua
maior honra! Bonita frase! Vamos já devolver para a Bosnia, Kosovo, Afeganistão, etc, os militares que
ali faleceram recentemente, tendo "criminosamente"
sido transportados para onde suas Famílias
desejavam, é certo, mas retirando-lhes a "honra" de
terem ficado enterrados no campo de batalha! Que
raio de honra esta! Todos os países repatriam os
seus mortos em combate no estrangeiro! Mas nós, como
somos muito "avançado" em tudo, a começar pela
Constituição da República, também deveríamos ser
os mais "avançados" neste aspecto e dar aos nossos
mortos a "honra" de lá ficar!
Ainda estamos a tempo deconseguir
a identificação de muitos dos nossos militares, sem
necessidade de exames de ADN. Mas cada dia que passa
essas marcas desaparecem uma a uma.
Errámos, todos, porque não nos apercebemos do
problema há mais tempo! Mas agora que o conhecemos,
não encontremos justificações comodistas para não
fazer o que a seu tempo devia ter sido feito!
Façamos o possível para termos uma atenção para com
as Famílias que, quando ainda todos éramos
jovens, nos confiaram os seus Filhos!
Ainda estamos a tempo de ter uma atitude de
reconhecimento para com os militares nossos
companheiros que morreram em África! Não com todos,
é certo, mas façamo-lo até onde ainda nos é possível!
E se
uma Caixa de Pandora se abrir, que se abra! O DEVER
está acima de tudo! E se se abrisse, naturalmente
até era bom para o País! Piorar, ele já não consegue
mesmo! `
E não deve haver a preocupação da
discrição, como tenho ouvido! Os Canadianos e os
Australianos e certamente os outros Povos, em vez de
discrição, fazem com que todo o País tenha
conhecimento do que se passou nas guerras em que
combateram, e é assim que a sua juventude conhece a
sua História contemporânea! Será que alguns dos meus
camaradas consideram ser vergonha ter
combatido em África e ter aí morrido pelo seu País?
Não seria de publicitar isso o máximo possível para
que os jovens o soubessem? Será que alguém se
envergonha do que se passou? Não se queixem depois
de que os temas militares não interessam à imprensa!
E de que os jovens não sabem para que servem as
Forças Armadas! Tremendos erros que temos feito!
É
urgente exigir do Governo, que este forneça à LIGA
DOS COMBATENTES os meios necessários para que esta
rapidamente translade para local seguro os restos
mortais dos militares ainda identificáveis pelas suas
campas, e cujas marcas desaparecem cada dia que
passa! Bem como dotar a LIGA dos meios que permitam
a transladação para Portugal dos militares cujas
Famílias o desejem (E apenas destas!).
Caso
seja militar do QP e concorde comigo, peço-lhe
divulgue esta ideia.
José Alberto de Moura Calheiros, Cor Inf Paraq na
Sit Reforma