Na Fazenda Beira Baixa, o reabastecimento às nossas tropas, era difícil devido ao facto dos guerrilheiros da UPA montarem emboscadas diárias às patrulhas que reabasteciam as tropas ali acantonadas.
Recordo que, durante uns três dias, esgotaram-se as
rações de combate e nem sequer havia bolachas de
água e sal para, ao menos, “enganar o estômago”.
Nesse período, houve apenas e no máximo, duas
refeições diárias. O pequeno almoço não ia além de
um púcaro de café, desacompanhado de pão ou bolacha.
Ao almoço, a refeição era única e simplesmente:
macarrão com chouriço, e, à noite, para variar!…
chouriço com macarrão.
Por vezes houve necessidade de recorrer ao reabastecimento aéreo, pouco prático porque os pesados sacos com os víveres, ao serem lançados de uma altura bastante considerável para o interior do aquartelamento, batiam estrondosamente no solo e ficavam em muito mau estado de utilização, não deixando, por isso, de serem convenientemente aproveitados.
Numa das patrulhas de reabastecimento terrestre, foi
morto, numa emboscada do IN, o Alferes Barrilaro
Ruas, da CC 117. No âmbito da toponímia, a autarquia
de Lisboa, em sessão de câmara, deu o nome, desse
mártir da guerra colonial, a uma rua da capital.
Trata-se da Rua Alferes Barrilaro Ruas,
em Santa Maria dos Olivais. Situa-se entre a Rua
General Silva Freire e a Rua Sargento Armando
Monteiro Ferreira (Bairro Olivais Norte). Deste
episódio, e não só, falará o meu amigo Alferes,
Nobre de Campos, no Blog CC 115, porque foi ele
quem, com o seu 3º. Pelotão, avançou em socorro
dessa coluna de reabastecimento tendo o pelotão sido
também flagelado pelo IN, logo que chegou ao local.
Refiro apenas que a CC 115, sofreu ali mais 2 mortos
e alguns feridos com gravidade.
Nobre de Campos disse...
O Alferes Barrilaro Ruas, Oficial da CC 117, foi o Cadete melhor classificado da Escola de Oficiais Milicianos de 1960, na EPI.
A sua morte foi trágica, como a de todos os outros
militares mortos em combate. Mas tornou-se muito notória
pelas circunstâncias que a envolveram: a CC 117 estava
estacionada em Quissacala ou Kiptêlo, não posso precisar
bem, e ele havia beneficiado de uns dias de dispensa
para ir a Luanda receber a esposa que vinda da
Metrópole, pretendia acompanhar o marido, Alferes
Barrilaro Ruas. Porque a zona onde a sua companhia se
encontrava não oferecia segurança, a esposa teve de
ficar em Luanda e ele regressou à sua unidade.
Regressado, foi o primeiro da escala para comandar uma
patrulha de reabastecimento à CC 115 que se encontrava
na Beira Baixa. Saindo a patrulha motorizada do seu
acampamento e percorridos poucos quilómetros, ao
atravessar uma zona em que a picada era dominada por uma
colina pelo lado direito, um atirador emboscado, não
teve dificuldade em identificar o comandante da patrulha
que, imprudentemente e por estar frio, era portador de
um casaco de cabedal e com os galões dourados a brilhar.
Com um tiro certeiro atingiu o Alferes Ruas numa zona
mortal. Verificaram-se ainda mais dois feridos ligeiros.
O 3º Pelotão da CC 115 recebeu a missão de ocupar pontos
sensíveis junto à picada a percorrer pela patrulha, o
que aconteceu. Nesse dia, os elementos da patrulha
motorizada que habitualmente faziam tiros de
reconhecimento para locais ao longo da picada mais
propícios a emboscada, não fizeram um único tiro de
reconhecimento e as viaturas marchavam em velocidade
muito acelerada, apenas se ouvindo o ruído dos motores,
o que causou surpresa ao comandante do 3º Pelotão,
vigilante ao longo da referida picada. Passada a
patrulha, e regressando ao acampamento, o comandante do
3º Pelotão foi surpreendido pela notícia da morte do seu
camarada e grande amigo desde o COM em Mafra, onde
faziam parte do mesmo Pelotão de Instrução.
"We don't need another hero!"
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