António do Casal Martins, Tenente-Coronel Pára-Quedista
na situação de reforma
"Pouco se fala hoje
em dia nestas coisas mas é bom que para
preservação do nosso orgulho como Portugueses,
elas não se esqueçam"
Barata da Silva, Vice-Comodoro
HONRA E GLÓRIA |
Elementos cedidos por um
colaborador do portal UTW
e pelo PQ Pedro Castanheira |
António do Casal Martins
Tenente-Coronel Pára-Quedista na situação de reforma
Angola: 10Abr1963 a 10Mai1965
2.ª Companhia de Caçadores Pára-Quedistas
Batalhão de Caçadores Pára-Quedistas 21
«GENTE OUSADA MAIS QUE QUANTAS»
2.ª Região Aérea
«FIDELIDADE E GRANDEZA»
Moçambique: 24Ago1966 a 25Out1968
4.ª Companhia de Caçadores Pára-Quedistas
Batalhão de Caçadores Pára-Quedistas 31
«HONRA-SE A PÁTRIA DE TAL GENTE»
3.ª Região Aérea
«LEALDADE E CONFIANÇA»
Angola: 23Jan1970 a 14Dez1971
3.ª Companhia de Caçadores Pára-Quedistas
Batalhão de Caçadores Pára-Quedistas 21
«GENTE OUSADA MAIS QUE QUANTAS»
2.ª Região Aérea
«FIDELIDADE E GRANDEZA»
Oficialato da
Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e
Mérito
Medalha de Cobre de Valor Militar com palma
Cruzes de Guerra de 1.ª e 2.ª classes
Medalha de Mérito Militar de 4.ª classe
Medalha de Promoção por Distinção
Medalha de Feridos em Campanha
Medalha de Ouro de Valor Militar com palma, colectiva
Cruz de Guerra de 1.ª classe, colectiva
Medalha Comemorativa das Campanhas e
Comissões de Serviços Especiais, com a legenda "Angola
1963-65"
Medalha Comemorativa das
Campanhas e Comissões de Serviços
Especiais, com a legenda "Moçambique
1966-68
António do Casal Martins, Tenente-Coronel Pára-Quedista
na situação de reforma, nascido no dia 20 de Novembro de
1939, na freguesia de Forjães, concelho de Esposende;
Em
3 de Abril de 1960, incorporado na Escola Prática de
Engenharia (EPE - Tancos) «UBIQUE DOCERE ET PUGNARE» –
recruta no Casal do Pote – onde frequenta a
especialidade de Guarda-Fios e o Curso de Cabos, durante
o período de serviço militar obrigatório;
Em 18 de Setembro de 1960, promovido a 1.º Cabo do
Exército;
Ainda
no período de serviço militar obrigatório, voluntaria-se
para a Escola de Tropas Pára-Quedistas;
Em 17 de Maio de 1961, como Soldado Pára-Quedista
frequenta no Batalhão de Caçadores Pára-Quedistas (BCP -
Tancos) «QUE NUNCA POR VENCIDOS SE CONHEÇAM» o 12.º
curso de pára-quedismo militar e obtém o brevet 970;
Em 10 de Abril de 1963, mobilizado pelo no Batalhão de
Caçadores Pára-Quedistas (BCP - Tancos)
«QUE
NUNCA POR VENCIDOS SE CONHEÇAM» para servir Portugal na
Província
Ultramarina
de Portugal, integrado na 2.ª Companhia de Caçadores
Pára-Quedistas do Batalhão de Caçadores Pára-Quedistas
21 (BCP21) «GENTE OUSADA MAIS QUE QUANTAS», da 2.ª
Região Aérea
«FIDELIDADE
E GRANDEZA»;
Em 18 de Outubro de 1964, promovido a 1.º Cabo
Pára-Quedista;
Em 10 de Maio de 1965, embarca no NTT ‘Vera Cruz’ de
regresso à Metrópole;
Pela Portaria de 2 de Junho de 1965, agraciado com a
Medalha de Mérito Militar de 4.ª classe, publicado na
Ordem de Serviço n.º 176 do Batalhão de Caçadores
Pára-Quedistas 21 (BCP21), de 27 de Julho de 1965:
Primeiro
Cabo Pára-quedista
ANTÓNIO DO CASAL MARTINS
Medalha de Mérito Militar de 4.ª Classe
Por Portaria de 2 de Junho de 1965
Por proposta do Comandante do BCP-21, louva a praça
abaixo mencionada, daquele Batalhão,” porque servindo no
Batalhão de Caçadores Pára-Quedistas 21, há mais de dois
anos, sempre se evidenciou, em inúmeras missões de
combate em que tomou parte, na chefia da sua equipa,
demonstrando possuir grandes qualidades de comando.
Colaborador, cumpridor, educado e de carácter recto,
substituiu algumas vezes o comandante da sua secção na
ausência deste. Assim aconteceu numa operação recente,
de
maneira excepcional, em que a sua secção se encontrava
isolada, e que se fazia sentir grandemente a actividade
do inimigo, evidenciando um notável poder de comando,
muita coragem e sangue-frio, o: 218/RD/1.º CB/PARA -
ANTÓNIO DO CASAL MARTINS.
Agraciado com a Medalha Comemorativa das Campanhas e
Comissões de Serviços Especiais, com a legenda ‘Angola
1963 – 65';
Pela Portaria de 25 de Agosto de 1965, agraciado com a
Medalha da Cruz de Guerra de 2.ª classe, por feitos em
combate na Província Ultramarina de Angola, nomeadamente
na zona de intervenção norte daquela província
ultramarina:
Primeiro
Cabo Pára-quedista
ANTÓNIO DO CASAL MARTINS
Medalha da Cruz de Guerra de 2.ª Classe
Por Portaria de 25 de agosto de 1965
Que, por proposta de Sua Excelência o Senhor General
Comandante da 2.ª Região Aérea, Sua Excelência o Senhor
General Comandante-Chefe das Forças Armadas de Angola,
por seu despacho de 31 de Julho de 1965, louvou o 1.º
Cabo Pára-Quedista n.º 218/RD - do Batalhão de Caçadores
Pára-Quedistas 21 - ANTÓNIO DO CASAL MARTINS, pelo seu
brilhante comportamento durante uma operação efectuada
em Abril de 1965 na Zona de Intervenção Norte, em que a
sua Companhia foi sistematicamente flagelada e emboscada
pelo inimigo em cada compartimento do terreno.
Tendo sob as suas ordens uma secção demonstrou possuir
qualidades excepcionais de chefia e um perfeito
conhecimento da táctica a usar para o cumprimento da
missão que lhe fora imposta. Estando presente em todos
os locais em que o perigo se fazia sentir, galvanizou os
homens da sua secção, dando exemplos de energia, decisão
e sangue-frio debaixo do fogo inimigo.
Em dado momento, porque as dificuldades do terreno não
permitiram manobrar, progrediu frontalmente
deslocando-se à testa da coluna e a um novo ataque
arrancou irresistivelmente contra o fogo do adversário,
arrastando consigo os seus homens, e abatendo ele
próprio dois elementos inimigos.
O 1.º Cabo MARTINS, mais uma vez confirmou as qualidades
já sobejamente demostradas em operações que, aliadas a
um comportamento exemplar, ao seu aprumo e espírito
disciplinado e disciplinador, o impõem como um militar
que honra a unidade que serve e prestigia as Tropas
Pára-quedistas;
Em 1965 frequenta o Curso de Furriel Pára-Quedista;
Em 30 de Abril de 1966, promovido a Furriel
Pára-Quedista;
Em 10 de Junho de 1966, perante as Forças Armadas
Portuguesas reunidas em parada
no
Terreiro do Paço, em Lisboa, foi-lhe imposta a
Medalha
da Cruz de Guerra de 2.ª classe;
Em 24 de Agosto de 1966, mobilizado pelo Regimento de
Caçadores Pára-Quedistas (RCP – Tancos) «QUE NUNCA POR
VENCIDOS SE CONHEÇAM» para servir Portugal na Província
Ultramarina de Moçambique,
integrado
na 4.ª
Companhia
de Caçadores Pára-Quedistas (4ªCCP) do Batalhão de
Caçadores Pára-Quedistas 31 (BCP31) «HONRA-SE A PÁTRIA
DE TAL GENTE», da 3.ª Região Aérea «FIDELIDADE E
GRANDEZA»;
Em
25 de Outubro de 1968, regressa à Metrópole;
Agraciado com a Medalha Comemorativa das Campanhas e
Comissões de Serviços Especiais, com a legenda
‘Moçambique 1966 – 68';
Em 31 de Dezembro de 1968, promovido a 2.º Sargento
Pára-Quedista;
Pela Portaria de 5 de Novembro de 1968, agraciado com a
Medalha de Cobre de Valor Militar com palma:
Segundo Sargento Pára-quedista
ANTÓNIO DO CASAL MARTINS
Medalha de Cobre de Valor Militar com Palma
Por Portaria de 5 de Novembro de 1968
Considerado como dado pelo Exmo. Comandante da 3.ª
Região Aérea por seu despacho de 27 de Julho de 1968.
Pelo Exm.º Comandante do Batalhão de Caçadores
Pára-Queistas 31, porque servindo na 4.ª Companhia de
Caçadores Pára-Quedistas há cerca de vinte e dois meses
e tomando parte em cerca de vinte e cinco operações,
demonstrou possuir excepcionais qualidades como
combatente, galvanizando em todas as acções os homens
sob seu comando.
Dotado de uma rusticidade, valentia e generosidade
extraordinárias, é sempre um dos primeiros a oferecer-se
para qualquer missão. Independente dos riscos e
dificuldades que a mesma possa comportar. Em virtude da
sua maneira de actuar, criou na 2.ª Secção do 2.º Grupo
de Combate, um autêntico espírito de equipa, levando os
seus homens a superar todas as dificuldades,
contribuindo eficazmente para os bons resultados
operacionais obtidos pelo seu grupo de combate.
Possuindo excepcionais qualidades como combatente, ainda
recentemente no decorrer da operação “TARECO”, teve
ocasião mais uma vez de se evidenciar. Destacado com a
sua secção para executar um golpe de mão a um grupo
inimigo, que pela posição que ocupava no terreno se
revestiu de extrema dificuldade, dando mostras de grande
valentia e conhecimento perfeito deste tipo de acção,
colocou-se à frente dos seus homens, executando uma
progressão de tal modo perfeita que conseguiu chegar com
surpresa total a poucos metros do inimigo, com risco da
própria vida e dando mais uma vez provas de valentia,
coragem e sangue frio notáveis, lançou um assalto
impetuoso, galvanizando de tal modo a secção que,
conseguiu êxito total, abatendo os oito elementos
componentes do grupo e capturando-lhe o material que
possuíam.
Quando da realização das provas de pentatlo, realizada
na unidade deu mais uma vez provas de grande capacidade
de comando, conduzindo a sua patrulha com visão e acerto
totais levando-a a vencer a referida prova com grande
vantagem sobre os seus adversários.
Militar muito disciplinado e disciplinador de uma
correção extrema para com os seus superiores e
inferiores impôs-se à consideração geral, sendo um
exemplo vivo de bem servir.
Dotado de magníficas condições para o tipo de guerra em
que nos encontramos empenhados, o 2.º Sargento
Pára-quedista CASAL MARTINS, pelas qualidades de
valentia, espírito de sacrifício, generosidade e
sangue-frio inúmeras vezes patenteadas em face do
inimigo, aliados à exemplar conduta na vida da unidade,
honra com o seu exemplo as Tropas Pára-quedistas,
constituindo exemplo de alto valor militar.
De
26 de Novembro de 1968 até 23 de Janeiro de 1970, esteve
a dar instrução no Regimento de Caçadores Pára-Quedistas
(RCP – Tancos) «QUE NUNCA POR VENCIDOS SE CONHEÇAM»
Em 10 de Junho de 1969, perante as Forças Armadas
Portuguesas reunidas em parada na Avenida dos Aliados,
junto ao edifício da Câmara Municipal do Porto, foi-lhe
imposta a Medalha de Cobre de Valor Militar com palma;
Em Julho de 1969, concedido direito ao uso da insígnia
da Condecoração Colectiva da Medalha da Cruz de Guerra
de 1.ª classe,
concedida ao Batalhão de Caçadores
Pára-Quedistas 31;
Em
23 de Janeiro de 1970, mobilizado pelo Regimento de
Caçadores Pára-Quedistas (RCP - Tancos) «QUE NUNCA POR
VENCIDOS SE CONHEÇAM» para servir Portugal na Província
Ultramarina de Angola, integrado na 3.ª Companhia de
Caçadores Pára-Quedistas do
Batalhão
de Caçadores Pára-Quedistas 21 (BCP21) «GENTE
OUSADA
MAIS QUE QUANTAS», da 2.ª Região Aérea «FIDELIDADE E
GRANDEZA»;
Em 14 de Dezembro de 1971, gravemente ferido no noroeste
de Angola, evacuado para o Hospital Militar 124 (HM124 –
Luanda) e dali para o Hospital Militar Principal (HMP –
Estrela);
Em 30 de Abril de 1972, promovido a 1.º Sargento
Pára-Quedista;
Em 19 de Agosto de 1972, promovido por distinção a
Alferes do Serviço Geral de Pára-Quedistas, contando a
antiguidade desde 16 de Dezembro de 1971:
Segundo
Sargento Pára-quedista
ANTÓNIO DO CASAL MARTINS
Diário do Governo n.º 198, 2.ª Série de 25 de Agosto de
1972
Considerando que o Segundo-Sargento Pára-quedista
António do Casal Martins, do Batalhão de Caçadores
Pára-quedistas n.º 21, se houve com raro destemor,
entusiasmo e lucidez nas numerosas missões de combate em
que participou, num alarde de valor que manteve com
grande regularidade, oferecendo-se como regra para os
lugares de maior risco, onde o seu comportamento o impôs
como um chefe que todos admiram;
Considerando que, no decurso de uma operação em que foi
atribuído ao seu pelotão a missão de perseguir um grupo
inimigo que dispunha de considerável avanço, se colocou
logo de início à testa da coluna, mau grado a previsão
de que o inimigo minaria os trilhos para dificultar a
perseguição, conseguiu reduzir o seu avanço, apesar de
ter sido ferido com muita gravidade;
Considerando que, não obstante ferido, sobrepôs a missão
ao sofrimento, aconselhando o seu comandante a que o
abandonasse e seguisse no avanço, numa demonstração de
estranho amor à causa por que lutou, dignificando a
profissão das armas;
Considerando que o Segundo-Sargento Para-quedista
António do Casal Martins praticou actos de coragem
física e moral para os quais deve ser chamada a atenção
pública e que aconselham, conforme reconheceu o Conselho
Superior da Aeronáutica, a sua promoção a Alferes, por
distinção;
Considerando que o Sargento Martins reúne as condições a
que se refere o artigo 1.º do Decreto-Lei 626/70, em
grau excepcional, de forma a justificar a aplicação do
artigo 3.º do referido diploma;
Usando da faculdade conferida pelo n.º 4 do artigo 109.º
da Constituição, o Governo decreta o seguinte:
Artigo único:
O Segundo-Sargento Pára-quedista António do Casal
Martins é promovido ao posto de alferes do quadro do
serviço geral Pára-quedista, contando a antiguidade
desde o dia16 de dezembro de 1971.
Marcelo Caetano - Horácio José de Sá Viana Rebelo - José
Pereira do Nascimento.
Assinado em 19 de agosto de 1972
Publique-se.
O Presidente da República, AMÉRICO DEUS RODRIGUES
THOMAZ.
Pela Portaria de 10 de Outubro de 1972, agraciado com a
Medalha da Cruz de Guerra de 1.ª classe:
Primeiro-Sargento
Pára-quedista
ANTÓNIO DO CASAL MARTINS
Medalha da Cruz de Guerra de 1.ª Classe
Por Portaria de 10 de outubro de 1972
Manda o Governo da República Portuguesa, pelo Ministro
da Defesa Nacional, louvar, por proposta do Comandante
da 2.ª Região Aérea, o 1.º Sargento Pára-Quedista
António do Casal Martins, do Batalhão de Caçadores
Pára-Quedistas 21, por se ter havido com raro destemor,
entusiasmo e lucidez nas numerosas missões de combate em
que participou, num alarde de valor que manteve com
pendular regularidade, missão após missão, oferecendo-se
como regra para os lugares de maior risco, onde o seu
comportamento calmo, mas pleno de valentia, impôs como
um chefe que todos admiram.
No âmbito da Companhia a que pertence, foi notável o seu
contributo para os resultados alcançados, os quais
porfiou com um afã sem desânimos, fossem quais fossem os
riscos, as dificuldades, os resultados previstos ou
decorrentes.
Relevante, entre muitas, foi a sua acção na operação
“COLHEITA H”, em que um grupo inimigo emboscou o seu
pelotão, desencadeando violento tiroteio a partir de
posições que lhe conferiam notável ascendente; foi então
que, medindo num relance o grave perigo que ameaçava a
vida dos seus companheiros logrou esquivar-se com a
secção que comandava da zona mais intensamente batida e
lançar-se numa investida temerária pelo flanco, cuja
rapidez levou o pânico ao seio do inimigo, a quem
infligiu severas baixas, volvendo com a sua actuação
impregnada de coragem, decisão sangue-frio e serena
energia debaixo de fogo, a situação a favor das nossas
tropas.
Mais recentemente, no decurso da operação “DESPEDIDA”,
tendo sido atribuída ao seu pelotão a missão de
perseguir um grupo adverso que dispunha de considerável
avanço, colocou-se desde logo à testa da coluna,
imprimindo-lhe um andamento tal que reduziu para metade,
após um dia de marcha, o avanço do inimigo, mau grado a
previsão de que este armadilharia os trilhos para obstar
à perseguição. No dia seguinte, quando tudo indicava que
os bandoleiros seriam alcançados, caiu o sargento
Martins numa armadilha que lhe amputou uma perna, único
obstáculo que pode vergar a sua vontade inquebrantável e
impedir que atingisse o objectivo. Assim ferido, teve
ainda ânimo para sobrepor a missão ao sofrimento
aconselhando o seu comandante a que o deixasse ali com
uma equipa e andasse um pouco mais, por estar convencido
de que o êxito não tardaria, numa derradeira
demonstração do entranhado amor à causa que lutou até
cair.
Pela forma excepcional como no decorrer da sua actual
comissão confirmou as qualidades que já noutras haviam
sido objecto de público reconhecimento, o sargento
Martins dignifica a profissão de armas, honra as Forças
Armadas e bem merece da Pátria a que se deu com exemplar
abnegação.
Em 12 de Novembro de 1972, promovido a Tenente do
Serviço Geral de Pára-Quedistas, contando a antiguidade
desde 16 de Dezembro de 1972;
Em 28 de Fevereiro de 1973, pela Ordem à Aeronáutica n.º
6 - 2.ª série e Ordem de Serviço n.º 57/74 de 9 de Março
de 1974, concedido direito ao uso da insígnia da
Condecoração Colectiva da
Medalha de Ouro de Valor Militar
com Palma, concedida ao Batalhão de Caçadores
Pára-Quedistas 21;
Em 31 de Maio de 1973, agraciado com o Oficialato da
Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e
Mérito, com palma:
Alferes
Serviço Geral Pára-quedista
ANTÓNIO DO CASAL MARTINS
Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e
Mérito
Diário do Governo n.º 144 de 20 de Junho de 1973
Chancelaria das Ordens Portuguesas
Alvará de concessão
Considerando que o Alferes do Serviço Geral
Pára-quedista António do Casal Martins, por feitos
valorosos em combate praticados em Moçambique, em que
revelou valentia, espírito de sacrifício, generosidade e
sangue-frio em face do inimigo, constituindo exemplo de
alto valor militar, foi condecorado com a medalha de
cobre de valor militar com palma;
Considerando que em Angola continuou com raro destemor,
entusiasmo e lucidez a praticar em numerosas missões de
combate, revelando personalidade, em que estão vincados
o valor, a lealdade e o mérito, tendo sido distinguido
pela sua valorosa ação com a medalha da cruz de guerra
de 1.ª classe;
Américo
Deus Rodrigues Thomaz, Presidente da República e
grão-mestre das ordens honoríficas portuguesas, faz
saber que nos termos do decreto-lei n.º 44721 de 24 de
Novembro de 1962, confere ao Alferes Serviço Geral
Pára-quedista António do Casal Martins, sob proposta do
Presidente do Conselho, o grau de oficial, com palma, da
Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e
Mérito.
Por firmeza do que se lavrou o presente alvará, que vai
ser devidamente assinado.
Presidência da República, 31 de maio de 1973
Américo Deus Rodrigues Thomaz - Marcello Caetano.
No dia 10 de Junho de 1973, perante as Forças Armadas
Portuguesas reunidas em parada no Terreiro do Paço, em
Lisboa, é-lhe imposta a Ordem Militar da Torre e Espada,
do Valor, Lealdade e Mérito, com palma, grau oficial;
Alferes António do Casal Martins
Em 11 de Junho de 1973, no gabinete do Ministro da
Defesa Nacional, é-lhe imposta a Medalha da Cruz de
Guerra de 1.ª classe;
Em 21 de Julho de 1973, casa com Maria Florinda Alves da
Silva, em Forjães, onde ainda residem;
Em
12 de Novembro de 1976, promovido a Capitão do Serviço
Geral Pára-Quedista, contando a antiguidade desde 16 de
Dezembro de 1975;
Em
5 de Março de 1979, obteve a reforma extraordinária e
passou à situação de deficiente das Forças Armadas.
Em
27 de Junho de 1997, graduado em Tenente-Coronel,
contando a antiguidade desde 1 de Outubro e 1988.
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(in "Uma Vida
de Herói"; publicado na edição n.º 243 da
Revista Boina Verde):
- «Eu fui como todos os outros rapazes da
minha idade: fomos assentar praça, era
obrigatório! Fui daqui para Tancos. Logo
para Tancos! Assentei praça na Escola
Prática de Engenharia em 1960, já lá vão uns
largos anos, onde tirei a recruta,
especialidade onde, igualmente, concluí o
curso de cabos.
Quando vi os pára-quedistas a saltar, fiquei
muito entusiasmado, e disse para comigo:
“Vou ser pára-quedista. Tenho que ser
pára-quedista!”. Os meus camaradas e amigos
diziam que eu [era] demasiado baixo e que
nunca teria condições para conseguir a Boina
Verde, mas eu pensei: Isso é o que se vai
ver! Tenho que fazer provas e quero sentir o
desafio… aquela adrenalina de ver o espaço e
de voar".
E assim aconteceu! Em Novembro de 1961, fui
prestar provas aos pára-quedistas, já como
1.º cabo do Exército. No decorrer das
mesmas, encontrei alguém que viria a ser um
grande amigo, o
Argentino Urbano Seixas. Era
ele que supervisionava as provas, bem como
outro sargento (do qual não me recordo o
nome).
O coronel Urbano Seixas era tenente [ie,
capitão] nessa altura. A 1ª prova
(agressividade) era feita por via de um
combate de boxe. Eu nunca tinha feito boxe
na minha vida, mas tinha muita força porque
trabalhava no duro desde muito jovem! Então,
calçaram-nos as luvas e lá fomos nós para o
ringue. Só que a minha mão era muito pesada
e o meu adversário ficou como um Cristo…
Como se costuma dizer, “sangrava por todos
os lados”. Isto só aconteceu porque eu
queria muito ser admitido e então dei tudo o
que tinha.
O tenente dizia: "dá-lhe mais, dá mais nesse
gajo, nós não queremos gente frouxa!". Mas
quando ele virava as costas, apenas fingia
que dava, porque também me doía estar a
bater numa pessoa que nem sequer se
defendia... O tenente Seixas separou-nos e
eu pensei para comigo que deveria ter
provado ao que vinha, porque, de facto, dei
muito mais. Mas o tenente Seixas diz ao
outro moço (nunca me vou esquecer): “Nem
para fazer limpeza, te queremos aqui. Não
queremos ninguém que vire as costas! E foi
buscar outro candidato e lá lhe calçou as
luvas (as minhas já estavam). Recomeçamos e
o coitado ficou também a sangrar, mas
aguentou-se melhor e, sobretudo, não virou
costas. Acabámos por ficar os dois apurados.
Depois deram-me um mês de licença. Fiquei
todo contente quando fui para casa!
Frequentei o 12.º Curso de Paraquedismo, em
1961.
Tirei alguns cursos em Tancos como 1º cabo e
assumi diversas responsabilidades. Fui
responsável pela messe de praças,
responsável por centenas de militares do,
então denominado, Batalhão de Caçadores
Pára-quedistas. Em 1963 fui mobilizado para
Angola e estive lá dois anos.
Entretanto tinha feito muita ginástica, fiz
judo, tirei o curso de dobrador sendo um dos
melhores classificados. Empenhei-me ao
máximo no decurso da comissão correndo
vários riscos e fui condecorado com a Cruz
de Guerra de 2.ª classe. Nessa altura,
regressei porque a comissão tinha acabado e
as minhas habilitações não eram muitas. No
entanto, fiz o 1.º e 2.º ano de liceu em
Angola. Já tinha iniciado em Tancos, com
explicações de francês e matemática, e
quando cheguei a Angola continuei,
juntamente com alguns amigos (um deles é
advogado, o Godinho). Mas já de volta a
Tancos quis dedicar-me ao pára-quedismo. O
pára-quedismo era a coisa que eu queria.
Gostava e gosto! A guerra não, essa é para
pôr de lado. Eu quero é paz. O capitão
Seixas era meu comandante na altura, quando
me apresentei para fazer espólio, disse: Oh
Casal Martins tu não vais embora. Não pá, tu
não te vais embora, vais ficar aqui . Eu
respondi “As minhas habilitações não me
favorecem, portanto eu tenho que ir à minha
vida”. Mas ele insistiu ”Não, não, tu ficas
aqui". São homens como tu que nós
precisamos. Tu agora vais entrar no curso de
Sargentos, o resto é connosco". Eu fiquei
animado.
O capitão disse ainda “Vais fazer as provas
para o curso de sargentos”. Eu como tinha
feito o 1.º e 2.º ano de liceu em Angola, não
tive problemas nenhuns no ingresso ao curso
de sargentos e tirei 17 valores. Eu e o
[Macrino da] Silva Azenha. Nós éramos como
irmãos. Já faleceu. O [António Gabriel]
Cardiga Pinto também foi connosco, faleceu
depois [em 05Mar1972] na Guiné. É curioso,
fomos fazer as provas, passámos e esse moço
que ajudámos, o Cardiga Pinto de Setúbal,
ainda teve mais meio valor que nós. Entrámos
no curso de sargentos mas já não me lembro a
duração. Fiquei em 8.º lugar, havia lá moços
com o 7º ano, mas fiquei em 8º e fiquei bem.
Foi nessa altura, depois de tirarmos o curso
de sargentos que dei uma recruta, na altura
no BCP. O meu pelotão da recruta ficou em 1º
lugar nas físicas, de 7 pelotões se não
estou em erro. Em cultura geral ficou em 2º.
Fisicamente puxava por eles. Depois os
primeiros 8 de curso foram mobilizados para
Moçambique, em Agosto de 1966. É caso para
dizer que para a frente de batalha havia
seriação. Fomos de avião Boeing 747, uma
viagem longa mas correu tudo bem.
Aterrámos em Luanda e depois para Lourenço
Marques (actual Maputo). Estivemos lá 2 anos
com o, actualmente,
major-general Lousada,
na 4.ª Companhia [do BCP31], um homem
disciplinado e com grande sentido de
liderança. Na altura era tenente e foi
promovido a capitão. Ele era mais novo do
que eu no pára-quedismo, mas já tinha feito
uma missão nos comandos, em Angola. A nossa
missão em Moçambique correu francamente bem,
fizemos muitas operações em ambiente muito
hostil e tive a honra de ser condecorado com
a Medalha de Valor Militar.
Eu faço questão, e fiz sempre desde que
voltei, de não me lembrar do que por lá se
passou. Foi muito intenso, demasiado
intenso! Perderam-se muitas vidas numa
guerra longa e com razões, no mínimo,
discutíveis. E por força dessa circunstância
há já muita coisa que não me lembro e outras
que não tenho claro. No entanto, recordo-me
como se fosse hoje de uma terrível emboscada
[no noroeste de Angola] que sofremos na
Serra da Canda, numa grande picada, com
muitas árvores por cima, muito terreno limpo
e descampado… Havia uma elevação à frente e
nós seguimos junto a ela. Vinha também um
tratador de cães com um pastor alemão, que
disse: "Vai haver mostarda aqui, vai haver
fogachada". Eram os termos que usávamos, lá
começam os disparos! Quando veio o primeiro
tiro, lancei-me logo para o mato. Se não me
acertaram com o primeiro, também não me iam
acertar com o segundo! Eram munições por
baixo, por cima, pelo meio, a terra a
levantar e folhas a cair das árvores. Um
filme de terror autêntico. Eu com a minha
arma varri a crista da elevação que lá
estava, até que os homens fugiram. Depois de
aquilo passar tudo fomos lá ver. Mas antes
de nos deslocarmos, o capitão [António dos
Santos] Frias chegou ao pé de mim e
perguntou: "Casal Martins, tu não estás
ferido? Tu não estás ferido?" Eu disse que
não. Até que me comecei a olhar e a apalpar:
"Não, não estou ferido não, estou bem". Diz
o capitão "Ó homem, só pode ter sido um
milagre. Com tantos tiros e munições a
cair…”. Lá seguimos e continuámos a nossa
progressão. Detectámos rastos de sangue e
uma equipa seguiu esse rasto, mas acabou por
desistir, porque se estava a aproximar a
noite. Não chegámos a encontrar os feridos,
levaram-nos ao colo. Também é certo que o
sentido da nossa progressão era outro... No
dia seguinte de manhã aconteceu-nos o pior.
Um militar nosso cai numa armadilha para
apanhar caça grossa (uma cova grande,
disfarçada com ramos e folhas secas).
Congelámos, pois ele ficou espetado pela
traqueia. Tivemos que o retirar para uma
clareira, por forma a permitir a sua
evacuação por helicóptero. Sobreviveu e
encontrei-o depois, tendo servido na GNR.
Era mais novo que eu cerca de dez anos. É
possível que ainda esteja vivo. Recordo-me
perfeitamente do que se passou nessa
operação em Angola.
Depois de chegarmos de Moçambique, regressei
novamente ao Regimento de Pára-quedistas. Aí
acompanhei mais a instrução, era supervisor.
O, então, capitão Lousada, nomeou-me como
supervisor da instrução mas, em menos de um
ano, fui para a minha 3ª comissão, para
Angola. Fui duas vezes para Angola e uma
para Moçambique. Angola, Moçambique e
Angola. Foi quando tive o acidente, em 1971.
Faltavam-me 15 dias para ir embora.
Entretanto tinha casado em 1969. Foi um
grande desgosto para mim porque fiquei sem a
perna. E era o Seixas outra vez o
comandante.
Aconteceu em Buela quando íamos em
perseguição de um grupo. Na altura era 2.º
Sargento, mas já tinha saído a ordem e já
tinha feito o tempo para ser 1.º Sargento.
Havia
uma clareira muito grande e eles
fugiram para os lados. Nós estávamos muito
perto deles. Tive azar e pisei uma mina
antipessoal. Não ficou mais ninguém ferido
porque a distância para a pessoa mais
próxima eram 10 metros, sendo eu o único
ferido. A operação acabou ali, comigo a
sangrar. Houve o cuidado de me evacuar o
mais depressa possível. Tinha um amigo meu,
infelizmente já falecido, que me disse, que
no aeroporto de São Salvador (actual
M’banza-Congo) atravessou o seu jipe na
frente do avião que ia partir de lá
proibindo-o de sair porque havia uma pessoa
ferida e a sangrar bastante que precisava de
ser evacuada imediatamente. Ainda estive
muito tempo à espera da equipa de cirurgiões
e a restante equipa médica. Sei que demorou
muito tempo, estava lúcido mas a sangrar. De
maneira que eu cheguei a dizer “Então mas eu
fico aqui? Eu fico aqui nesta mesa? Fico
aqui à espera? Vão-me deixar morrer aqui?”.
Lembro-me disto.
A equipa médica era portuguesa, não sei o
nome de nenhum médico porque na altura nem
sequer traziam identificação. Fui operado
ainda por baixo do joelho, pensando os
médicos que iriam conseguir poupar-me o
joelho. É muito diferente ter o joelho do
que estar sem ele, porque conseguimos fazer
praticamente os mesmos movimentos. Agora com
o fémur cortado a um terço é muito
diferente. De um dia para o outro ganhei
gangrena. Eram umas dores terríveis. Estar
na cama com um lado a receber sangue, o
outro lado a receber soro, enfim. Nessa
noite, disse ao vigia da noite: “Tirem-me
isto daqui porque eu não suporto as dores.
Chamem o médico, chamem quem quiserem mas
isto não pode estar bem". Quando o médico
chegou à minha beira, de manhã, mandou tirar
o penso e viu que eu tinha gangrena. Fiquei
novamente com a ferida exposta, só com um
penso por cima, por causa das moscas, do
contágio, vírus, enfim. Fiquei assim cerca
de oito dias. O comandante Seixas foi-me
visitar e disse: "Casal Martins, tens que
ser amputado pelo fémur". Foi quase como uma
faca que me meteram no coração. Perguntei se
não havia outra coisa a fazer, mas não
havia. O melhor era cortar o mal pela raiz,
que eram os vasos infectados. Mentalizei-me
que tinha de cortar o joelho. Mas nessa
altura o céu desabou sobre mim. A minha vida
aí ficou sem conserto. “O que vou fazer
agora? O que vai ser de mim? O que vou
fazer?”. Aquilo mudou totalmente a minha
vida.
O pára-quedismo para mim tinha acabado, o
que iria fazer? Nunca mais fiz desporto mas
o desporto para mim era o menos, o
pára-quedismo era tudo. Fazia desporto
porque gostava, mas gostava mais do
pára-quedismo. Foi uma altura muito difícil
para mim, passei dores horríveis naquele
hospital, físicas e
psicológicas. Estive no
hospital mais uns oito dias, passando lá o
Natal de 1971. Na rádio disseram que o Casal
Martins tinha sido promovido a alferes,
nessa altura estava num anexo do Hospital da
Estrela, em Lisboa. Eu não ouvi o rádio,
contaram-me. Fui promovido por distinção,
tenho duas Cruzes de Guerra, Valor Militar e
Ordem Militar de Torre e Espada, do Valor,
Lealdade
e Mérito. O general Lousada foi
quem deu o passo mais
importante para a
minha promoção por distinção. Acho que foi
ele, não sei. Sei que não pedi nada a
ninguém. Talvez tenha sido a minha forma de
estar nos teatros-de-guerra que levou a
isso. Não foram as minhas habilitações,
porque as que tinha não chegavam para ser
oficial.
No meu cantinho. Com a minha esposa. Nasci
aqui, a minha esposa também. Ela é mais nova
que eu seis anos. Quando eu tinha 20 ela
tinha 14. Já era pára-quedista quando a
abordei para pedir em namoro. Quando soube
da minha desgraça ela animou-me. Dizia-me
para ter calma e que tudo iria ser
ultrapassado.
Eu não me considero um herói, apenas um
pára-quedista que cumpriu as missões e que
deu sempre o máximo. O meu irmão foi alferes
miliciano e esteve também no Ultramar e
tenho reportes de que foi também um bom e
sério pára-quedista. Mas acho que o facto da
minha filha ter vindo aqui parar não foi
coincidência, como é evidente. Ela sempre
foi muito mexida e interessada na minha
carreira e creio que ela me quis fazer uma
pequena homenagem (risos). E que grande
homenagem: No juramento de bandeira dela,
fui chamado à Parada Alferes Mota da Costa
para receber o prémio de melhor recruta, das
mãos do Exmo. Sr. General Lousada. Quando
ele me viu na tribuna perguntou-me “Casal
Martins, o que estás aqui a fazer?”
“Vim ao Juramento de Bandeira da minha
Filha, Meu General” e ele retorquiu “Não me
digas. Eu não sabia que tinhas cá uma
filha”. E depois de me ter entregue o
diploma de melhor classificada disse-me “Tal
Pai, tal filha!”
Mas não há distinção, condecoração, livro ou
louvor que me devolva o que perdi e trocava,
imediatamente, tudo sem pensar. Tinha apenas
32 anos e, mais do que uma perna,
amputaram-me a vida por uma guerra que ainda
me custa a perceber... Felizmente consegui
emergir novamente com a ajuda da minha
família e dos meus amigos mas, apenas para
lhe dar um exemplo, não recebia um
telefonema da "tropa" há mais de 30 anos.
Mas enfim... Sou um homem muito orgulhoso
pela forma como me entreguei à instituição
porque sei que fiz tudo o que estava ao meu
alcance e tenho frases de ilustres
individualidades militares, gravadas na
minha cabeça, de como cumpria as missões. E,
honestamente, creio que isso diz tudo.»
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